domingo, 8 de fevereiro de 2015


Ratto delle sabine, 1574-1580 (dett.)
Jean de Boulogne (1529 – 1608)
Loggia dei Lanzi, Firenze
A Bunda, Que Engraçada

A bunda, que engraçada.
Está sempre sorrindo, nunca é trágica.

Não lhe importa o que vai

pela frente do corpo. A bunda basta-se.
Existe algo mais? Talvez os seios.
Ora – murmura a bunda – esses garotos
ainda lhes falta muito o que estudar.

A bunda são duas luas gêmeas
em rotundo meneio. Anda por si
na cadência mimosa, no milagre
de ser duas em uma, plenamente.

A bunda se diverte
por conta própria. E ama.
Na cama agita-se. Montanhas
avolumam-se, descem. Ondas batendo
numa praia infinita.

Lá vai sorrindo a bunda. Vai feliz
na carícia de ser e balançar.
Esferas harmoniosas sobre o caos.

A bunda é a bunda,
redunda.

Carlos Drummond de Andrade in. Poesia Completa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2007, pp. 1373-4.


 
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...