quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Ódio revisitado*

Por Dorrit Harazi




Nada mais fugidio e elusivo do que o “momento decisivo” perseguido e fotografado por Henri Cartier-Bresson ao longo da vida – aquele que define a essência de uma situação. Não raro, esse instante se apresenta sem avisar. Com frequência, sequer é percebido por quem o captou.

Cinquenta e quatro anos atrás, um jovem fotógrafo do Arkansas Democrat conseguiu encapsular um desses momentos com sua primeira Nikon S2, máquina da era pré-digital. Carregou a máquina com um filme Kodak Plus X, ótimo para manhãs ensolaradas de final de verão, e foi cobrir o primeiro dia de aula de um grupo de estudantes negros na maior e melhor escola média de Little Rock. Esse pedaço de história ficou gravado no negativo de número 15.

Eram apenas nove os jovens negros selecionados pela direção do principal colégio da cidade, o Central High School, para cumprir a ordem judicial de integração racial no país. Segundo David Margolick, autor do recém-publicado Elizabeth and Hazel: Two Women of Little Rock (ainda inédito no Brasil), a peneira foi cautelosa. A busca se concentrou em colegiais que moravam perto da escola, tinham rendimento acadêmico ótimo, eram fortes o bastante para sobreviver à provação, dóceis o bastante para não chamar a atenção e estóicos o suficiente para não revidar a agressões. Como conjunto, também deveria ser esquálido, para minimizar a objeção dos 2 mil estudantes brancos que os afrontariam.

Assim nasceu o grupo que entraria na história dos direitos civis americanos como “Os Nove de Little Rock”. Eram todos adolescentes bem-comportados, com sólidos laços familiares, filhos de funcionários públicos e integrantes da ainda incipiente classe média negra sulista. Entre eles, a reservada Elizabeth Eckford, de 15 anos.

Os pais dos nove pioneiros foram instruídos a não acompanharem os filhos naquele 4 de setembro de 1957, pois as autoridades temiam que a presença de negros adultos inflamasse ainda mais os ânimos. Por isso, os escolhidos agruparam-se na casa de uma ativista dos direitos civis e de lá seguiram juntos para o grande teste de suas vidas. Menos Elizabeth, que não recebera o aviso para se encontrar com os demais e partiu sozinha rumo a seu destino.

De longe ela avistou a massa de alunos brancos passando desimpedidos pelo cordão de isolamento montado pela Guarda Nacional do Arkansas. Ao tentar fazer o mesmo, foi barrada por três soldados que ergueram seus rifles. Elizabeth recuou, procurou passar pela barreira de soldados em outro lugar da caminhada e a cena se repetiu. Alguém, de longe, gritou “Não a deixem entrar” e uma pequena multidão começou a se formar às suas costas. Foi quando Elizabeth se lembra de ter começado a tremer. Com a majestosa fachada da escola à sua frente, ela ainda fez uma terceira tentativa de atravessar o bloqueio em outro ponto do cordão de isolamento.

Como pano de fundo, começou a ouvir invectivas de “Vamos linchá-la!”, “Dá o fora, macaca”, “Volta pro teu lugar”, frases proferidas por vozes adultas e jovens. Atordoada, dirigiu-se a uma senhorinha branca – a mãe lhe ensinara que em caso de apuro era melhor procurar ajuda entre idosos. A senhorinha, porém, lhe cuspiu no rosto.

Como não conseguisse chegar à escola, a adolescente então tomou duas decisões: não correr (temeu cair se o fizesse) e andar um quarteirão até o ponto de ônibus mais próximo. Um aglomerado de cidadãos brancos passou a seguir cada passo seu. Imediatamente às suas costas vinha um trio de adolescentes, alunas do colégio. Entre elas, Hazel Bryan.

“Vai pra casa, negona! Volta para a Á”– clic– “frica!” Segundo o autor do livro centrado no episódio, foi este o instante em que a câmera de Will Counts captou a imagem que se tornaria histórica.

Hazel, de quinze anos e meio, não carregava qualquer livro escolar. Apenas uma bolsa e um inexplicável jornal. Ela não planejara nada para aquela manhã. Vestira-se com o esmero que era sua marca – roupas e maquiagem ousadas para uma adolescente daquela época – e arvorou-se de audácia ao ver tantos fotógrafos e soldados da Guarda Nacional. Nada além disso. O resto pode ser debitado à formação que recebera em casa – família de origem rural, ideário fundamentalista cristão, atitude racial aprendida com o pai.

[...]


Revista Piauí, n° 62, novembro de 2011. pp. 44 – 46.

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*De um país que até bem pouco tempo segregava racialmente seus alunos em escolas distintas (engraçado como ninguém fala do regime de aparthaid nos Estados Unidos) a um país que elegeu um presidente negro, será que mudou muita coisa por lá? Esse texto é uma boa leitura sobre a questão racial americana, passada e presente.

O olhar*

Por MILAN KUNDERA




O olhar do homem já foi descrito muitas vezes. Ele pousa friamente sobre a mulher, ao que parece, como se a medisse, a pesasse, a avaliasse, a escolhesse, ou seja, como se a transformasse em coisa.
O que não se sabe tão bem é que a mulher não está inteiramente desarmada contra esse olhar. Se ela é transformada em coisa, ela então observa o homem com o olhar de uma coisa. [...]

Milan Kundera, O livro do riso e do esquecimento, 1990.


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*Milan Kundera (1929), escritor tcheco. 

Ruína*

Por MANOEL DE BARROS




Um monge descabelado me disse no caminho: “Eu queria construir uma ruína. Embora eu saiba que ruína é uma desconstrução. Minha idéia era de fazer alguma coisa ao jeito de tapera. Alguma coisa que servisse para abrigar o abandono, como as taperas abrigam. Porque o abandono pode não ser apenas de um homem debaixo da ponte, mas pode ser também de um gato no beco ou de uma criança presa num cubículo. O abandono pode ser também de uma expressão que tenha entrado para o arcaico ou mesmo de uma palavra. Uma palavra que esteja sem ninguém dentro. (O olho do monge estava perto de ser um canto). Continuou: digamos a palavra AMOR. A palavra amor está quase vazia. Não tem gente dentro dela. Queria construir uma ruína para a palavra amor. Talvez ela renascesse das ruínas, como o lírio pode nascer de um monturo”. E o monge se calou descabelado.


Manoel de Barros, Poesia Completa, 2010. p. 385.


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*Manoel Wenceslau Leite de Barros nasceu em Cuiabá (MT) em 1916, é um dos principais poetas brasileiros contemporâneos. 

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Como era bom*

Por CHACAL


o tempo em que marx explicava o mundo
tudo era luta de classes
como era simples
o tempo em que freud explicava
que édipo tudo explicava
tudo era clarinho limpinho explicadinho
tudo muito mais asséptico
do que era quando eu nasci
hoje rodado sambado pirado
descobri que é preciso
aprender a nascer todo dia.

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*Realmente este ano me convenceu, e acho que não somente a mim, que o mundo está maluco (ou seriam as pessoas?). Quantas revoluções! Quantas inovações! Quanta loucura! Concordo com o Chacal, só se sobrevive a tudo isso “aprendendo a nascer todo dia”. 

O corpo dos condenados*



Por MICHEL FOUCAULT



[Damiens fora condenado, a 2 de março de 1757], a pedir perdão publicamente diante da porta principal da Igreja de Paris [aonde devia ser] levado e acompanhado numa carroça, nu, de camisola, carregando uma tocha de cera acesa de duas libras; [em seguida], na dita carroça, na praça de Greve, e sobre um patíbulo que ai será erguido, atenazado nos mamilos, braços, coxas e barrigas das pernas, sua mão direita segurando a faca com que cometeu o dito parricídio, queimada com fogo de enxofre, e as partes em que será atenazado se aplicarão chumbo derretido, óleo fervente, piche em fogo, cera e enxofre derretidos conjuntamente, e a seguir seu corpo será puxado e desmembrado por quatro cavalos e seus membros e corpo consumidos ao fogo, reduzidos a cinzas, e suas cinzas lançadas ao vento.

Finalmente foi esquartejado [relata a Gazette d'Amsterdam]. Essa última operação foi muito longa, porque os cavalos utilizados não estavam afeitos a tração; de modo que, em vez de quatro, foi preciso colocar seis; e como isso não bastasse, foi necessário, para desmembraras coxas do infeliz, cortar-lhe os nervos e retalhar-lhe as juntas...

Afirma-se que, embora ele sempre tivesse sido um grande praguejador, nenhuma blasfêmia lhe escapou dos lábios; apenas as dores excessivas faziam-no dar gritos horríveis, e muitas vezes repetia: "Meu Deus, tende piedade de mim; Jesus, socorrei-me". Os espectadores ficaram todos edificados com a solicitude do cura de Saint-Paul que, a despeito de sua idade avançada, não perdia nenhum momento para consolar o paciente.

[O comissário de polícia Bouton relata]: Acendeu-se o enxofre, mas o fogo era tão fraco que a pele das costas da mão mal e mal sofreu. Depois, um executor, de mangas arregaçadas acima dos cotovelos, tomou umas tenazes de aço preparadas ad hoc, medindo cerca de um pé e meio de comprimento, atenazou-lhe primeiro a barriga da perna direita, depois a coxa, dai passando as duas partes da barriga do braço direito; em seguida os mamilos. Este executor, ainda que forte e robusto, teve grande dificuldade em arrancar os pedaços de carne que tirava em suas tenazes duas ou três vezes do mesmo lado ao torcer, e o que ele arrancava formava em cada parte uma chaga do tamanho de um escudo de seis libras.

Depois desses suplícios, Damiens, que gritava muito sem contudo blasfemar, levantava a cabeça e se olhava; o mesmo carrasco tirou com uma colher de ferro do caldeirão daquela droga fervente e derramou-a fartamente sobre cada ferida. Em seguida, com cordas menores se ataram as cordas destinadas a atrelar os cavalos, sendo estes atrelados a seguir a cada membro ao longo das coxas, das pernas e dos braços.

O senhor Le Breton, escrivão, aproximou-se diversas vezes do paciente para lhe perguntar se tinha algo a dizer. Disse que não; nem é preciso dizer que ele gritava, com cada tortura, da forma como costumamos ver representados os condenados: "Perdão, meu Deus! Perdão, Senhor". Apesar de todos esses sofrimentos referidos acima, ele levantava de vez em quando a cabeça e se olhava com destemor. As cordas tão apertadas pelos homens que puxavam as extremidades faziam-no sofrer dores inexprimíveis.

O senhor Le Breton aproximou-se outra vez dele e perguntou-lhe se não queria dizer nada; disse que não. Achegaram-se vários confessores e lhe falaram demoradamente; beijava conformado o crucifixo que lhe apresentavam; estendia os lábios e dizia sempre: "Perdão, Senhor".

Os cavalos deram uma arrancada, puxando cada qual um membro em linha reta, cada cavalo segurado por um carrasco. Um quarto de hora mais tarde, a mesma cerimônia, e enfim, após várias tentativas, foi necessário fazer os cavalos puxar da seguinte forma: os do braço direito a cabeça, os das coxas voltando para o lado dos braços, fazendo-lhe romper os braços nas juntas. Esses arrancos foram repetidos varias vezes, sem resultado. Ele levantava a cabeça e se olhava. Foi necessário colocar dois cavalos, diante dos atrelados as coxas, totalizando seis cavalos. Mas sem resultado algum.

Enfim o carrasco Samson foi dizer ao senhor Le Breton que não havia meio nem esperança de se conseguir e lhe disse que perguntasse as autoridades se desejavam que ele fosse cortado em pedaços. O senhor Le Breton, de volta da cidade, deu ordem que se fizessem novos esforços, o que foi feito; mas os cavalos empacaram e um dos atrelados as coxas caiu na laje. Tendo voltado os confessores, falaram-lhe outra vez. Dizia-lhes ele (ouvi-o falar): "Beijem-me, reverendos".

O senhor cura de Saint-Paul não teve coragem, mas o de Marsilly  passou por baixo da corda do braço esquerdo e beijou-o na testa. Os carrascos se reuniram, e Damiens dizia-lhes que não blasfemassem, que cumprissem seu ofício, pois não lhes queria mal por isso; rogava-lhes que orassem a Deus por ele e recomendava ao cura de Saint-Paul que rezasse por ele na primeira missa.

Depois de duas ou três tentativas, o carrasco Samson e o que lhe havia atenazado tiraram cada qual do bolso uma faca e lhe cortaram as coxas na junção com o tronco do corpo; os quatro cavalos, colocando toda força, levaram-lhe as duas coxas de arrasto, isto é: a do lado direito por primeiro, e depois a outra; a seguir fizeram o mesmo com os braços, com as espáduas e axilas e as quatro partes; foi preciso cortar as carnes até quase aos ossos; os cavalos, puxando com toda força, arrebataram-lhe o braço direito primeiro e depois o outro.

Uma vez retiradas essas quatro partes, desceram os confessores para lhe falar; mas o carrasco informou-lhes que ele estava morto, embora, na verdade, eu visse que o homem se agitava, mexendo o maxilar inferior como se falasse. Um dos carrascos chegou mesmo a dizer pouco depois que, assim que eles levantaram o tronco para o lançar na fogueira, ele ainda estava vivo. Os quatro membros, uma vez soltos das cordas dos cavalos, foram lançados numa fogueira preparada no local sito em linha reta do patíbulo, depois o tronco e o resto foram cobertos de achas e gravetos de lenha, e se pôs fogo a palha ajuntada a essa lenha.

...Em cumprimento da sentença, tudo foi reduzido a cinzas. O último pedaço encontrado nas brasas só acabou de se consumir as dez e meia da noite. Os pedaços de carne e o tronco permaneceram cerca de quatro horas ardendo. Os oficiais, entre os quais me encontrava eu e meu filho, com alguns arqueiros formados em destacamento, permanecemos no local até mais ou menos onze horas.


Michel Foucault, Vigiar e Punir: nascimento da prisão, 2004.

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*O que é justiça? Como reparar um crime? Certo é que ao longo do tempo buscamos nos “aperfeiçoar” nesse quesito. Saímos dos suplícios, como esse de Damiens, e chegamos a essa forma recente (em termos históricos) que é a prisão. Embora particularmente continue achando que o único sentido da condenação de um criminoso seja o exemplo para quem, de fora, ainda não  o é. Essa economia do poder de punição, essa racionalização que forjou o nascimento dos presídios em substituição aos castigos e execuções públicas será a maneira mais “humanizada” de punir? Tenho lá minhas dúvidas.

Sobre isso indico um filme-documentário muito bom: “O prisioneiro da grade de Ferro”(2003). (sigam o link).

sábado, 26 de novembro de 2011

Lição número 1*



Por JOSENIAS SILVA





“Se um cachorro morde um homem, isso não é notícia. Mas, se um homem morde um cachorro, aí sim é notícia.”


A frase acima, dita em 1882, é atribuída ao antigo editor do NY Sun, o jornalista norte-americano John B. Bogart. Acho incrível como em mais de um século essa lição número 1 ainda não foi absorvida pela maioria dos “jornalistas” e editores. (Abro um parêntese para lembrar que, de maneira “genial”, o STF decidiu, ainda em 2009, pela não obrigatoriedade do diploma de Jornalista para quem quer atuar como tal. Portanto, se amanhã lhe der na veneta de ser um "grande" jornalista é só ir fundo, "nada" lhe impede.)


Praticamente não há limites éticos por trás da programação jornalística da Tv. Nela trava-se cotidianamente uma guerra de lógica bem simples, vence quem atraí mais, ou seja, quem consegue fisgar o maior número de telespectadores. Não importa o conteúdo em si, mas o apelo que ele poderá ter diante do público. Enfim, acredito que deveria existir um mínimo de rigor (não falo de censura) na decisão sobre o quê deve ir ao ar, sobre quem deve ir ao ar e em qual horário, talvez assim não fossemos atingidos por tanta inutilidade. 


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*Para quem se interessar indico o seguinte artigo publicado no Observatório da Imprensa: “Jornalista, só com diploma: melhor para o Jornalismo, melhor para a sociedade”

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Assim me chamo, se lhe pareço*

Por URARIANO MOTA




Vontade tenho de fazer uma afirmação geral, categórica: o nome da gente é destino. Mas quando reflito sobre isso, descubro que apenas cometi o título de um tango. Ou uma imensa bobagem. Por isso digo agora, mais restrito e conformado: o nome de algumas pessoas é destino. Como este meu, Urariano.
Mais de uma vez, em mais de uma oportunidade, esse meu nome exige ser repetido a quem o escuta pela primeira vez, e ainda assim, mais de uma vez, sofre equívocos. Para ser matemático, direi que a cada dez vezes em que me apresento, recebo de volta nove traduções. No mínimo.
- Urano? Uriano? Uraniano? Ulariano?...
Algumas traduções não lembro, porque a memória, sábia, prefere não guardar. E não exagero. Se alguém põe dúvida, consulte o Google. Ali verá Urariano Mota, Uraniano Mota, Uriano Mota, todas versões, por incrível que pareça, referentes a este homem que agora lhes fala: um ser simples, camarada, generoso, simpático, pouco feio, se não exagero. Notem o agravante: o google remete a informações escritas, a textos escritos e assinados por mim, não ouvidos, mas, ainda assim, transformam – os outros, os que não aceitam este destino –, transformam a consoante r em n, comem ra, uma sílaba inteira, e outros crimes e variações, porque grande e imaginoso é o engenho humano.     
Nome também é costume. Quando eu nasci, é claro, eu não sabia que me chamava assim. Depois, antes dos 5 anos, minha mãe dizia que ao ouvir Urariano, eu olhava para os lados, como se procurasse outro. Esquizofrenia tem história, dizem os analistas. Esquizofrenia tem nome, digo eu. O certo é que me acostumei a mim mesmo aos poucos. Primeiro, me disfarçando em Ura, Urá, Urari, Urare, Ulari, Ulare, Uriano, Uraniano, Orare, Orariano, conforme os outros me chamavam. Havia algum encanto em ser vários, no fluxo da intimidade e educação das pessoas. É certo, ninguém jamais me chamou de Unamuno. Mas de Tertuliano, sim, em homenagem a um jogador de futebol do São Paulo, de apelido Terto. Grande artilheiro.
Quando atingi a maturidade, quero dizer, quando atingi a idade que para outros é a maturidade, porque continuei a fazer desastre em cima de desastres, eu não mais me disfarçava no que me chamavam. Ouvia o personagem que me queriam dar, e me dizia:
- Que estúpida, essa pessoa não vê que me chamo Urariano? Tão simples.

Era a vitória do costume. A essa altura eu era este nome em silêncio e contrariado. Depois, em acontecimentos mais próximos, cheguei a ouvir em uma sala de ultrassonografia, de uma enfermeira:
- O seu nome é mesmo este? Senhor, eu não consigo. Urururi..  senhor, o seu nome é um trava-língua.

Simpática. De fato, com isso ela me fez esquecer da imagem no vídeo acima de mim. 
Mas não há só desvantagem em ser registrado com este substantivo raro. Se não cometo algum crime, algum delito arbitrado no Código Penal, porque seria com mais facilidade preso, algemado e julgado, nem sempre nessa ordem, acredito existir alguma vantagem de compensação. Algo como um bônus que se concede aos animais ameaçados de extinção. Lembro que na Caixa Econômica, ao solicitar a retirada do meu Fundo Garantia de Tempo de Serviço, uma  funcionária me perguntou, para consulta em um banco de dados da Caixa:
- Nome?

- Urariano.

- Do quê?

- Minha filha, não tem do quê. Escreva só - e repeti, precavido, letra por letra: u-r-a-r-i-a-n-o.

E ela, triunfal:
- O senhor está enganado. Tem outro aqui.

E eu, sem ver as informações que apareciam na tela do seu computador:
- O engano é seu. O “outro” é Urariana. Minha irmã, nascida em 1955.

E era.
Por isso digo ao fim: podem me chamar do que desejarem, que não me importo. Assim sou, se lhes pareço. De Ura a Orare, passando por Uriano e Orariano, não há problema. Só não me chamem de Urariana. Essa é minha irmã, uma senhora brava como o quê.

 


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* Ri às pencas com este texto de Urururi, Ularari, Orari, sei lá, U-r-a-r-i-a-n-o (ufa!) Mota. Leiam o texto vocês que tem nomes esquisitos (o meu é), que conhecem pessoas de nomes esquisitos ou pensam em colocar nomes esquisitos em filhos. Ele é uma ótima e bem humorada história de quem sofre com um nome, digamos assim, raro. 

Vida Maria*




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*Maravilhoso curta cearense sobre o ciclo do analfabetismo e da pobreza no Brasil. Vale a pena assistir. 

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Papai Noel velho batuta*




Ah, O natal! Enfim, está chegando o natal. O esquizofrênico acende-apaga das luzinhas, o how-how-how, as cores, as músicas, as propagandas da Tv, tudo lembra o natal. Neste momento, missivas e mais missivas estão sendo escritas para o Papai Noel, o que já prenuncia o quanto o bom velhinho terá que suar a camisa para atender a todos. Uma bola para o Joãozinho que passou de ano, uma barbie para a mariazinha que se comportou na missa, um playstation 3 para o juquinha  que não brigou mais com a irmã etc, etc, etc... tudo mediado por muitas preces e singelos coraçoezinhos. É o natal, tempo de paz e harmonia entre os homens de bem do nosso rodopiante planetinha azul. Lindo, não?

Mas como diria o personagem shakesperiano, “há algo de podre no reino da Dinamarca”, ou melhor, há algo de podre nessa fuzarca toda. Eu não quero jogar terra no mel, mas de fato o natal só existe para uma ínfima (endinheirada) parcela da população. Criança rica e criança pobre, principalmente nesse período, provam que não são iguais, já que o Papai Noel (cada vez mais escroto) é uma farsa. O bom velhinho é um porco interesseiro que só aparece de ano em ano para obrigar as pessoas a comprar. No seu grande saco vermelho ele não traz esperança, justiça, paz e nem mesmo pão. Ao contrário, ele traz a cobiça, a inveja, o sentimento de inferioridade, as dívidas etc, etc, etc.

Resumindo: O bom velhinho é um mau velhinho. Ele só beija crianças ricas. Ele não dá presente. A casa dele é no shopping (porque lá criança pobre não entra). Ele rejeita os miseráveis. Ele quer meter a mão no seu bolso. Ele quer que você compre. Que você roube. Que você mate. Que você se endivide. Que você faça tudo para comprar. O Papai Noel faz comercial. Ele ganha dinheiro para ser Papai Noel. Ele é um porco capitalista. Eu odeio o Papai Noel porque ele é um “velho batuta” (FDP). Ele cospe nos pobres e mima os ricos. 



O perfume*



Por PATRICK SUSKIND





No século XVIII viveu na França um homem que pertenceu à galeria das mais geniais e detestáveis figuras daquele século nada pobre em figuras geniais e detestáveis. A sua história é contada aqui. Ele se chamava Jean-Baptiste Grenouille e se, ao contrário dos nomes de outros geniais monstros como, digamos, Sade, Saint-Just, Fouché, Bonaparte etc, o seu nome caiu hoje no esquecimento, isto certamente não ocorreu porque Grenouille tenha ficado atrás desses homens das trevas mais famosos em termos de arrogância, desprezo à raça humana, imoralidade, ou seja, em impiedade, mas porque o seu gênio e a sua única ambição se concentravam numa área que não deixa rastros na história: o fugaz reino dos perfumes.

Na época de que falamos, reinava nas cidades um fedor dificilmente concebível por nós, hoje. As ruas fediam a merda, os pátios fediam a mijo, as escadarias fediam a madeira podre e bosta de rato; as cozinhas, a couve estragada e gordura de ovelha; sem ventilação, salas fediam a poeira, mofo; os quartos, a lençóis sebosos, a úmidos colchões de pena, impregnados do odor azedo dos penicos. Das chaminés fedia o enxofre; dos curtumes, as lixívias corrosivas; dos matadouros fedia o sangue coagulado. Os homens fediam a suor e a roupas não lavadas; da boca eles fediam a dentes estragados, dos estômagos fediam a cebola e, nos corpos, quando já não eram mais bem novos, a queijo velho, a leite azedo e a doenças infecciosas. Fediam os rios, fediam as praças, fediam as igrejas, fedia sob as pontes e dentro dos palácios. Fediam o camponês e o padre, o aprendiz e a mulher do mestre, fedia a nobreza toda, até o rei fedia como um animal de rapina, e a rainha como uma cabra velha, tanto no verão quanto no inverno. Pois à ação desagregadora das bactérias, no século XVIII, não havia sido ainda colocado nenhum limite e, assim, não havia atividade humana, construtiva ou destrutiva, manifestação alguma de vida, a vicejar ou a fenecer, que não fosse acompanhada de fedor.

Naturalmente, em Paris o fedor era maior, pois Paris era a maior cidade da França. E em Paris, por sua vez, um lugar havia onde o fedor imperava de modo especialmente infernal, entre a Rue aux Fers e a Rue de la Ferronnerie, ou seja, no Cimetière des Innocents. Ao longo de oitocentos anos, tinham sido para ali trazidos os mortos do hospital Hôtel-Dieu e das comunidades eclesiais das redondezas; ao longo de oitocentos anos, carretas traziam até ali, dia após dia, cadáveres às dúzias, jogados em longas covas; ao longo de oitocentos anos, acumulados nas criptas e ossários, camadas e mais camadas de ossinhos. E só mais tarde, às vésperas da Revolução Francesa, depois que algumas das covas haviam desabado perigosamente e o fedor do saturado cemitério havia levado os moradores das cercanias não mais a meros protestos, mas a verdadeiros levantes, é que ele foi finalmente fechado e transferido, tendo os milhões de ossos e crânios sido enterrados nas catacumbas de Montmartre e, no seu lugar, surgiu uma praça com uma feira livre.

Bem ali, no lugar mais fedorento de todo o reino, foi que nasceu Jean-Baptiste Grenouille, a 17 de julho de 1738. Era um dos dias mais quentes do ano. O calor pairava como chumbo por sobre o cemitério e empurrava para as ruas vizinhas os gases da putrefação que cheiravam a uma mistura de melões podres e chifre queimado. Quando as dores começaram, a mãe de Grenouille estava numa peixaria da Rue aux Fers e escamava pescadas, as quais acabara de eviscerar. Os peixes, presumidamente recolhidos do Sena naquela manhã, já fediam tanto que o seu fedor se sobrepunha ao dos cadáveres. Mas a mãe de Grenouille não percebia nem o cheiro dos peixes nem o dos cadáveres, pois o seu nariz era praticamente insensível a odores e, além disso, doía-lhe o corpo, e a dor tirava-lhe toda sensibilidade para sensações externas. Queria só uma coisa: que a dor cessasse, e deixar para trás o quanto antes o horror do parto. Era o seu quinto. Os quatro anteriores ela havia resolvido ali na peixaria, e os quatro haviam nascido mortos ou semimortos, pois a carne ensangüentada que dela saíra não se diferenciava muito das vísceras dos peixes que já estavam atiradas pelo chão, e também não vivia mais muito tempo, e à noite era tudo jogado junto em carretas e levado para o cemitério ou lá para baixo no rio. Assim deveria ocorrer também hoje.

... 


[trecho do primeiro capítulo] 


Patrick Suskind, O perfume, Rio de Janeiro: Record, 1985.

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*Um livro com uma história genial. Foi uma ótima sacada do autor, o alemão Patrick Suskind, ter tomado o cheiro como o principal elemento da narrativa. Isso prova que os sentidos, tão negligenciados pelos historiadores, é algo que deve ser explorado. Afinal de contas, ele compõe o cenário das nossas vivências tanto quanto as palavras, as cores, os sons, os gestos ou os sentimentos.

Grenouille, o personagem central do romance, é um típico personagem do ensaio “A vida dos homens infames” de Michel Foucault. Ele é da mesma categoria de Pierre Rivière ou Damiens. Loucos, assassinos que só entraram para a história em função de seus horrendos crimes.

Sugiro a leitura do Livro, ou para quem não tem tanto tempo assim, indico o filme (Perfume: a história de um assassinato) baseado no mesmo romance. Ambos são experiências incríveis. 

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Uniformes informais*



Por AFFONSO ROMANO DE SANT´ANNA





Estapafúrdios, cômicos, despassarados  os uniformes ao meu redor.

Estão uniformizados e se crêem originais combatendo outros uniformes.

O casal parou na lanchonete. Ele vestindo jaqueta de couro, calça de couro, cabelo eriçado tipo Neymar, brincos prateados,  argolas presas no nariz e na língua.Usava botas. Ela completava o quadro, era o seu similar feminino. Os dois pareciam saídos de um filme de terror. E sorriem  cadavericamente enquanto comem um insalubre sanduíche e bebem coca.

Estão convencidos de  serem originais. As moças da lanchonete (uniformizadas com aqueles aventais coloridos e boné como nas lanchonetes americanas)  olham aquele outro uniforme.

Passam rapazes com tatuagem até  na alma. Olhando de longe parece que têm alguma doença de pele. São de uma tribo determinada. Passa por mim agora uma moça  que vai fazer ginástica. Uniformizada de ginasta. Se passasse um padre ou uma  freira vestidos de padre e freira iam dizer que o padre e a feira estavam uniformizados. Se passasse algum militar idem. Aliás, num mundo em que todo mundo está disfarçadamente uniformizado, os militares já não usam mais uniformes nas ruas.

Na calçada passam homens gordos com aquela barriga ostensiva, usando bermudas, o que torna as pernas e barrigas mais caricaturais. Meu Deus como as pessoas ficaram feitas! Usam tênis ou sandálias. Podem ter vindo de um aeroporto, de um avião, pois hoje nos aviões, tem sempre  alguém semi nu coçando o dedão do pé num  gesto de impudica carícia.
          
Hoje quem não tem aquela barba rala, aquela barba de quem está fingindo estar barbado, quem não tem esse uniforme não pode ser manequim nem ator de novela. A calvície reina. E identifica certas preferências sexuais. Calvos senhores com seus bíceps avantajados  cruzam por mim. A calvície não tem mais idade. Vejam os jogadores de futebol- carecas, ao Beatles ao revés.

Outro uniforme é a camiseta cavada tentando mostrar algum músculo. Isto conjugado com bermudas coloridíssimas que lembram trajes de palhaços. Carnavalização. A moda há muito subverteu as normas do calendário. A roupa carnavalizada não é mais para o fim de semana, é para todo dia,  a qualquer hora, qualquer cinema, teatro ou enterro. As camisetas cheias de letras em inglês, cujo sentido os usuários ignoram. Nunca se viu tanta coisa escrita nas pessoas como se fosse um livro escrito em sânscrito. A harmonia que está na moda  é a harmonia do mau gosto.

E as mochilas? Segue a multidão curvada ao peso de inconfortáveis mochilas. Parecem retirantes, trânsfugas. E nos ônibus, trens e aeroportos as corcovas derrubam e ferem os outros. Já não se tem mais o limite do próprio corpo.

Como dizer a certas pessoas que elas não deveriam usar jeans, certos tipos de jeans. Assim como certas pessoas ficam bem com qualquer roupa, outras ficam mal com  qualquer grife que ostentam. E o jeans virou uma calamidade azul, desbotada, rasgada.

A uniformidade na desuniformidade. Disformidades.

Todos se pensando originais, todos copiando modelos comercialmente criados em outros países. Não há diferença entre um  jovem em Nova York outros  em Manaus, em Varsóvia ou Moscou. Não só os jovens. Os velhos uniformizaram-se no falso não-uniforme.

Se todo mundo é original, a originalidade é copiar. Não é à toa que as mesmas lojas estão nos idênticos shopping de todo o mundo. Mesmices.

Mesmerizadas as pessoas   copiam  o mesmo e se sentem  o outro.


Fonte: Affonso Romano de Sant´Anna, O Estado de Minas, 20.11.11

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*De fato, somos tão identicamente originais que até nos imitamos, ou nos matamos quando alguém ousa desviar da manada. É a raça humana, fazer o quê?

sábado, 19 de novembro de 2011

Sonhos de Einstein*

Por Alan Lightman






Neste mundo, já num primeiro olhar percebe-se que algo está fora de lugar. Não se vêem casas nos vales ou nas baixadas. Todos moram nas montanhas.

Em algum momento do passado, cientistas descobriram que o tempo flui mais lentamente nos pontos mais distantes do centro da Terra. O efeito é minúsculo, mas pode ser medido por instrumentos extremamente sensíveis. Assim que o fenômeno foi constatado, algumas pessoas, desejosas de permanecerem jovens, mudaram-se para as montanhas. Agora, todas as casas são construídas no Don, no Matterhorn, no monte Rosa e em outros pontos elevados. É impossível vender residências em outros locais.

Muitos não se satisfazem apenas situando suas moradias em uma montanha. Para obter efeito máximo, constroem suas casas sobre colunas. Os topos das montanhas do mundo inteiro estão cobertos por casas deste tipo, que à distância parecem um bando de pássaros gordos apoiados sobre pernas longas e magras. As pessoas que desejam viver mais construíram suas casas sobre as colunas mais altas. Com efeito, algumas casas estão a meia milha de altura, equilibrando-se sobre suas espigadas pernas de madeira. Altitude passou a ser sinal de status. Quando uma pessoa, da janela de sua cozinha, precisa olhar para cima para ver um vizinho, ela tem a certeza de que aquele vizinho não ficará com as juntas enferrujadas tão cedo quanto ela, que ela demorará a perder os cabelos, não terá rugas ainda por muito tempo, não perderá o ímpeto romântico tão cedo. Da mesma maneira, uma pessoa que olha para baixo para ver outra coisa tende a julgar seus ocupantes gastos, fracos e míopes. Alguns se gabam de ter passado a vida inteira nas alturas, de ter nascido na casa mais alta do mais alto pico e de nunca ter descido. Celebram sua juventude diante do espelho e caminham nus em seus terraços.

Às vezes algum negócio urgente obrigam as pessoas a descerem de suas casas, e elas o fazem apressadamente, correndo aflitas pelas escadas altas até o chão, depois até uma outra escada ou até o vale. Concluem seus afazeres e voltam o mais rápido que podem para suas casas ou para outros lugares altos. Elas sabem que, a cada degrau que descem, o tempo passa com maior velocidade e elas envelhecem um pouco mais rapidamente. No chão as pessoas nunca param. Elas correm, carregando suas pastas e sacos de compras.

Um pequeno número de residentes em cada cidade pára de se preocupar se envelhece alguns segundos mais rápidos que seus vizinhos. Essas almas aventureiras costumam descer para o mundo de baixo e ali permanecem durante dias, descansam sob as árvores que crescem nos vales, nadam prazerosamente nos lagos localizados em altitudes onde as temperaturas são amenas, rolam no chão. Quase nunca olham para seus relógios e mal podem dizer se é segunda ou quinta-feira. Quando os outros passam por elas e zombam, apenas sorriem.

Com o passar do tempo, as pessoas esqueceram por que razão mais alto é melhor. Mesmo assim, continuam vivendo nas montanhas, evitando baixadas ao máximo, ensinando seus filhos a se afastarem de crianças de locais de baixa altitude. Elas toleram o frio das montanhas por hábito e valorizam o desconforto como positivo para sua educação. Elas até mesmo se convenceram de que o ar rarefeito é bom para seus corpos e, seguindo esta lógica, adotaram dietas especiais, comendo apenas comidas mais leves. Os anos passaram e a população acabou ficando tão leve quanto o ar, com os ossos protuberantes, envelhecida antes do tempo.


Alan Lightman, Sonhos de Einstein, 1993.


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*Será que é possível furar a “bolha” um pouquinho? Ou seria melhor apodrecermos dentro dela? No bom latim se diria: Carpe Diem.

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Let’s play that*

Por TORQUATO NETO



quando eu nasci
um anjo louco muito louco
veio ler a minha mão
não era um anjo barroco
era um anjo muito louco, torto
com asas de avião
eis que esse anjo me disse
apertando a minha mão
com um sorriso entre os dentes
vai bicho desafinar
o coro dos contentes
vai bicho desafinar
o coro dos contentes

(1972)

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*Torquato Pereira de Araújo Neto (1944-1972), poeta, louco de pedra e palavra.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Beijo da rua*



Por Josenias Silva


A puta

Quero conhecer a puta.
A puta da cidade. A única.
A fornecedora.
Na rua de Baixo
Onde é proibido passar.
Onde o ar é vidro ardendo
E labaredas torram a língua
De quem disser: Eu quero
A puta
Quero a puta quero a puta.

[...]

Carlos Drummond de Andrade, “O Amor Natural”, 1992.


Toda cidade tem seus cantos e seus antros. Toda cidade possui lugares onde se pode escapar, por meio do sexo, das marcas nodais da moralidade. Para quem consome a cidade, estes territórios potencializam a realização daquilo que é publicamente inconfessável. Ali, as taras, as fantasias, os fetiches, os arranjos e rearranjos em torno do sexo acabam produzindo novos sentidos e sensibilidades.

Essa “geografia do prazer” dentro da cidade fez emergir a figura da prostituta que, embora seqüestrada da fala e do espaço público, sempre pairou sobre o imaginário social. Mesmo como um ser (in)desejado ou um “fantasma”, a prostituta jamais deixou de despertar a imaginação e o gosto pelo “proibido”.


Abaixo apresento alguns cartões-postais que fizeram parte do repertório estético e erótico da belle époque. Diga-se, em nada comparáveis à pornografia que hoje nos cerca retirando o encanto de tudo. 










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*Indico uma boa leitura sobre o tema: RAGO, Margareth. Os prazeres da noite: prostituição e códigos da sexualidade feminina em São Paulo (1890-1930). 2.ed. São Paulo: Paz e Terra, 2008. Também indico um site sobre a luta das "profissionais do sexo" pelo reconhecimento e valorização pública: É só seguir o link: http://www.beijodarua.com.br/
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