Até mesmo os especialistas em comportamento humano e sexólogos têm
dificuldade em conceituar a infidelidade porque ela esbarra naquilo que nos
individualiza, como nossa carga emocional, história de vida, dificuldades,
limitações, angústias e querências as mais diversas, algumas até
patológicas.
A
infidelidade requer uma visão tridimensional, "a da pessoa traída, a que
trai e a terceira pessoa. Ela pressupõe a quebra do pacto de exclusividade na
relação amorosa e gera sofrimento por ter que dividir o companheiro com outro
alguém", afirma Clara Feldman, psicóloga, e autora dos livros
"Sobre-vivendo à traição", "De Paixão e Cegueira" e
"Encontro, uma Abordagem Humanista".
Motivações não faltam para
explicar a infidelidade. "Alguns argumentam que a qualidade do
relacionamento não está boa, que se sentem insatisfeitos com a relação, outros
porque apresentam a ‘síndrome do pavão’, aquele que seduz pelo simples fato de
seduzir e depois abandona a pessoa. Esse tipo
sente prazer com a traição e faz isso por necessidade de autoafirmação e pode
chegar às raias do patológico. Um último grupo tem necessidade sexual
compulsiva, gosta da adrenalina, do risco, inclusive de morte", enumera a
especialista.
Quem ama trai? "Trai, e muitas vezes não por razões ligadas
ao relacionamento, que pode ser extremamente satisfatório, existir um
sentimento de amor recíproco, intensidade na relação, mas mesmo assim, há
espaço para a traição", diz Feldman. Mas no universo das traições existe
espaço ainda para aquele tipo que só se sente seguro com a insegurança do
outro. "O indivíduo trai e deixa sinais para que o outro perceba e se
sinta inseguro em relação ao seu próprio valor. Ele trai com medo do outro
traí-lo primeiro. Com isso o outro perde o foco em si e passa a se relacionar
com aquilo que o outro quer que ele sinta. E vira uma
relação doentia", diz a psicóloga.
Regras
Não existem regras sobre quem
trai mais, se o homem ou a mulher, mas "uma coisa é fato, o homem trai
mais por razões ligadas à necessidade e a mulher quando se sente subnutrida
amorosamente, quando o companheiro se torna agressivo, mal humorado e mantém
atitudes depreciativas em relação à ela. Culturalmente o homem sente
necessidade de afirmar a sua masculinidade, de se mostrar viril para os amigos,
mostrar que transa com muitas mulheres diferentes. Questão de vaidade",
enfatiza Feldman.
A psicóloga cita o que chama de ética da traição. Aconselha a
Bíblia a "não pecar por pensamentos, palavras, atos e omissões". Existem
pessoas que se sentem traídas só quando existe sexo e outras com olhares. Mas
quem cerceia a liberdade do outro corre mais riscos de ser traído. A pergunta
é: em uma relação bem estruturada onde o diálogo permeia a relação, qual o dano
que a traição por palavras, pensamento e omissões pode trazer?" questiona.
Há dez anos, o sexólogo europeu Willy Passini pesquisou mais de mil mulheres e
homens, perguntando o que eles preferiam: que seu parceiro transasse com ele
pensando em outro ou transasse com outro pensando nele Resultado: Homens
preferiam que as companheiras transassem com eles pensando em outro homem e as
mulheres preferiam que seus parceiros transassem com outras pensando
nelas.
Infidelidade é um conceito abstrato
“Tive oportunidade de atender pessoas que se confessavam voyer. Eram
perversas porque sentiam prazer em ver o seu companheiro transando com outras
pessoas, mas quando ele se envolviam e não contava para o parceiro, abalava a
relação. Naquele momento se configurava o conceito de traição”, diz o sexólogo
Gerson Lopes.
Hoje existe infidelidade virtual
Homens e mulheres que até fazem sexo pela Internet. “Nesse caso há infidelidade ou não? Além de ser polêmica no conjunto, ela é polêmica no conceito”, afirma o sexólogo. Tem infiel de todo jeito. “Uns são eternos conquistadores e não sustentam uma relação. A atração é mais forte que o envolvimento. Em uma relação saudável, ambos, passada a fase da paixão, terão que conviver com o lado escuro do outro”, diz o sexólogo.
E nessa
hora, vem o perigo. “As pessoas se envolvem com o ser idealizado, a ponto de
transformá-lo em príncipe ou princesa. Quando descobrem o sapo ou a rã,
acontece a desidealização. É quando a relação pode crescer”, pontua
Lopes.
Ana Elizabeth Diniz in. Amigos do Freud