terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Freud, Jung & Sabina – e o sexo masoquista*



Por Paulo Nogueira



Jung e Sabina, no filme de Cronenberg

Na era do cinema para débeis mentais consagrado por Hollywood e cuja apoteose é o Oscar, é um prazer redobrado ver um bom filme como Métodos Perigosos, de David Cronenberg, diretor de A Mosca.
Clap, clap, clap. Aqui estou, aplaudindo de pé.
A história é fascinante: o triângulo formado por Jung, Freud e a jovem russa Sabina Spielgen no começo dos anos 1900. Fazia pouco tempo que Freud cunhara a palavra “psicanálise”, em sua Viena.
Não é exatamente um triângulo amoroso. A cópula, em si, aliás nada convencional, fica a cargo de Sabina e Jung. Ela, filha de uma família judia rica da Rússia, acabaria internada no hospital psiquiátrico suíço em que Jung, começava sua carreira. Sabina tinha 19 anos, e Jung, com menos de 30, já experimentava o tédio do casamento com Emma.
Jung testa em Sabina aquilo que aprendera ao ler intensamente Freud, a psicanálise. Logo descobre a natureza de seu distúrbio. O pai batia nela. E ela ficava sexualmente excitada ao apanhar. Masoquismo. Não demora muito, Jung está dando a Sabina aquilo de que ela gosta – castigo físico. E sexo: viram amantes. Ele a desvirgina e depois disserta sobre as virtudes da poligamia.

 Sabina
Sabina, intelectualmente brilhante, acabaria enveredando também pela psicanálise. Sua estatura só seria devidamente apreciada nos anos 1970, quando foram descobertas cartas que mostravam não apenas o papel decisivo dela na ruptura entre Freud e Jung como, mais que isso, suas idéias originais no campo da psicanálise ao estabelecer um vínculo decisivo entre o impulso sexual e o instinto de sobrevivência. (Freud, para quem o sexo era ligado ao prazer e não à sobrevivência, não perdoou o que julgou canalhice no comportamento de Jung ao supostamente se aproveitar da vulnerabilidade da paciente indefesa.)
Desde que vieram à luz as cartas em que fica clara a grandeza histórica de Sabina, ela foi objeto de biografias, peças, artigos acadêmicos – e, agora, o filme de Cronenberg. Nele, Sabina é interpretada notavelmente por Keira Knightley. (Fiquei bem mais impressionado com Keira como Sabina do que com Meryl Streep como Thatcher, e não estou falando aqui em beleza e juventude.)
Sabina cumpriu o destino de tantos judeus de sua geração. Foi morta, com as duas filhas, em sua Rússia natal pelos nazistas, na Segunda Guerra Mundial.
Mas sua participação como protagonista na história da psicanálise – como paciente, como amante, como pensadora e como pivô do rompimento dos dois grandes gênios da matéria – acabaria por imortalizá-la, como prova o filme de Cronenberg. É um trabalho tão bom que me fez comprar, na mesma noite, o livro “Sex versus Survival”, de John Launer, que narra a trajetória de Sabina. (Astutamente, a Amazon lançou o ebook quando saiu o filme. Li em poucas horas quase todo, e recomendo vivamente.)
Mais uma vez, clap, clap, clap para o filme, cujo trailer você pode ver no pé deste artigo.
De pé.

[Trailer clique aqui]



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