Forças poderosas e estratégias insuspeitadas redesenham, a
cada dia que passa, nosso rosto incerto no espelho do mundo. Face à vertigem
das mutações em curso, sobretudo nessa matéria prima tão impalpável quanto
incontornável a que chamamos de subjetividade, e a exemplo do que ocorreu desde
a queda do muro de Berlim, não paramos de nos perguntar: o que se passou, o que
terá acontecido que de repente tudo mudou, que já não nos reconhecemos no que
ainda ontem constituía o mais trivial cotidiano? Aumenta nosso estranhamento
com as maneiras emergentes de sentir, de pensar, de fantasiar, de amar, de
sonhar, e cada vez mais vemo-nos às voltas com imensos aparelhos de codificação
e captura, que sugam o estofo do que constituía, até há pouco, nossa mais
intima espessura.
*Peter Pál Pelbart in. “A vertigem por um fio: políticas de
subjetividade”. Ed. Iluminuras, 2000, p. 11.
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Le
Desespere, c.1844-45.
Gustave
Courbet, 1819-1877.
Óleo
sobre tela, 45 cm x 55cm.