O
passo mais importante e decisivo na vida das mulheres é precisamente aquele que
consideram sempre o mais insignificante. [...] Só aos trinta anos pode uma
mulher conhecer os recursos desta situação. Aproveita-a para rir, gracejar e
enternecer-se sem se comprometer. Possui então o tato necessário para atacar no
homem todas as cordas sensíveis e estudar os sons que daí tira. O seu silêncio
é tão perigoso como as suas palavras. Nunca se pode adivinhar, se nessa idade, é
franca ou falsa, se zomba ou se é de boa fé nas suas confissões. Depois de
ter-nos dado o direito de lutar com ela, de repente, com uma palavra, um olhar,
um desses gestos cujo poder lhe é conhecido, termina o combate, nos abandona, e
fica senhora do nosso segredo, ou para nos imolar com um gracejo, ou para se
ocupar de nós, protegida igualmente pela sua fraqueza e pela nossa força.
*Honoré
de Balzac in. “A mulher de trinta anos”. Ed. Nova Cultural, 1995, pp. 86-87.