Para a maior parte da humanidade hoje, onze homens jovens
num campo de futebol é que personificam “o país”, o Estado, “o nosso povo”, e
não os políticos, as constituições e as movimentações militares. Aparentemente,
esses times nacionais são compostos de cidadãos nacionais. Mas todos nós
sabemos que esses milionários dos esportes aparecem num contexto nacional
apenas alguns dias por ano. Em sua principal ocupação, eles são mercenários
transnacionais, regiamente pagos, quase todos a serviço de outros países. Os
times aclamados a cada dia por um público nacional são montagens heterogêneas
que só Deus sabe quantos países e raças, em outras palavras, daqueles que são
reconhecidos como os melhores jogadores do mundo. Na maioria dos clubes nacionais
bem-sucedidos há, por vezes, não mais que dois ou três jogadores nativos. Isso
é lógico mesmo para torcedores racistas, pois o que eles querem acima de tudo é
um clube vitorioso, ainda que não mais racialmente puro.
*Eric Hobsbawm in. “Tempos Fraturados: cultura e sociedade
no século XX”. Ed. Companhia das Letras, 2013, p. 52.