Cenários desabarem é coisa que
acontece. Acordar, bonde, quadro horas no escritório ou na fábrica, almoço,
bonde, quatro horas de trabalho, jantar, sono e segunda terça quarta quinta
sexta e sábado no mesmo ritmo, um percurso que transcorre sem problemas a maior
parte do tempo. Um belo dia, surge o “por quê” e tudo começa a entrar numa
lassidão tingida de assombro. “Começa”, isto é o importante. A lassidão está ao
final dos atos de uma vida maquinal, mas inaugura ao mesmo tempo um movimento
da consciência. Ela o desperta e provoca sua continuação. A continuação é um
retorno inconsciente aos grilhões, ou é o despertar definitivo. Depois do
despertar vem, com o tempo, a conseqüência: suicídio ou restabelecimento.
*Albert Camus in. “O Mito de
Sísifo”. Ed. Record, 2010, p.27.
Colheita, c.1880.
Julien Dupré, 1851-1910.