domingo, 16 de junho de 2013

Globalização, Bobalização*



Nesta civilização onde as coisas importam cada vez mais e as pessoas cada vez menos, os fins foram seqüestrados pelos meios: as coisas te compram, o automóvel te governa, o computador te programa, a Tv te vê. (...) As coisas têm atributos humanos, acariciam, acompanham, compreendem, ajudam, o perfume te beija e o carro é o amigo que nunca falha. A cultura de consumo fez da sociedade o mais lucrativo dos mercados. Os dolorosos vazios do peito são preenchidos com coisas ou com o sonho de possuí-las. E as coisas não se limitam a abraçar: elas também podem ser símbolos de ascensão social, salvo-condutos para atravessar as alfândegas da sociedade de classes, chaves que abrem portas proibidas. Quanto mais exclusivas, melhor: as coisas te escolhem e te salvam do anonimato multitudinário. (...) Dizes-me quanto [e o quê] consomes, dir-te-ei quanto vales. (...).

*Eduardo Galeano in. “De Pernas pro Ar: a escola do mundo ao avesso”. Ed. l&pm, 2011, pp. 255-277.

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