A
história do futebol é uma triste viagem do prazer ao dever. Ao mesmo tempo em
que o esporte se tornou indústria, foi desterrando a beleza que nasce da
alegria de jogar só pelo prazer de jogar. Neste mundo do fim de século, o
futebol profissional condena o que é inútil, e é inútil o que não é rentável.
Ninguém ganha nada com essa loucura que faz com que o homem seja menino por um
momento, jogando como o menino que brinca com o balão de gás e como o gato
brinca com o novelo de lã: bailarino que dança com uma bola leve como o balão
que sobe ao ar e o novelo que roda, jogando sem saber que joga, sem motivo, sem
relógio e sem juiz.
O
jogo se transformou em espetáculo, com poucos protagonistas e muitos
espectadores, futebol para olhar, e o espetáculo se transformou num dos
negócios mais lucrativos do mundo, que não é organizado para ser jogado, mas
para impedir que se jogue. A tecnocracia do esporte profissional foi impondo um
futebol de pura velocidade e muita força, que renuncia à alegria, atrofia a
fantasia e proíbe a ousadia.
Por
sorte ainda aparece nos campos, embora muito de vez em quando, algum atrevido
que sai do roteiro e comete o disparate de driblar o time adversário inteirinho,
além do juiz e do público das arquibancadas, pelo puro prazer do corpo que se
lança na proibida aventura da liberdade.
Eduardo
Galeano. in. "Futebol ao Sol e à Sombra." Ed. l&pm, 2004.