domingo, 29 de janeiro de 2012

O último poema*



Por Mario Quintana


Enquanto me davam a extrema-unção,
Eu estava distraído...
Ah, essa mania incorrigível de estar sempre pensando noutra coisa!
Aliás, tudo é sempre outra coisa
- segredo da poesia - 
E, enquanto a voz do padre zumbia como um besouro,
Eu pensava era nos meus primeiros sapatos
Que continuavam andando, que continuam andando,
Até hoje
Pelos caminhos deste mundo.


In: Preparativos de viagem, 1987.

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