sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

De tudo, ao meu amor serei atento*



Por Josenias Silva




Acho que todo mundo que conheço já leu o soneto de fidelidade de Vinicius de Moraes. O soneto, se levado ao pé da letra, fala muito da biografia sentimental do próprio Vinicius que, para quem não sabe, casou-se nove vezes.

Ninguém mais que ele levou tão a sério esse negócio de que seja infinito enquanto dure. E foi assim, vivendo cada vão momento, que o poeta casou  fielmente com: Beatriz Azevedo de Melo, Regina Pederneiras, Lila Bôscoli, Maria Lúcia Proença, Nelita de Abreu, Cristina Gurjão, Gesse Gessy, Marta Rodrigues Santamaria e Gilda de Queirós Mattoso.

Ele mesmo, um boêmio inveterado, apreciador de charutos e uísque, sempre dizia em tom de brincadeira a cada novo enlace: “Esta agora será a minha viúva”. No fim, o que se sabe é que ele aproveitou a vida e amou a todas.

Vinicius morreu (curiosamente) dentro da banheira de sua casa, no Rio de Janeiro, no dia 09 de Julho de 1980. Não sei se ele “brincava sério” ou se realmente queria saber, mas ficou para a história que sua última esposa - e viúva oficial - foi Gilda.


Soneto de Fidelidade

De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.

Vinicius de Moraes in: Nova Antologia poética, 2005, p.40.

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