Relinchavam os cavalos, amaldiçoavam os cocheiros, silvavam os chicotes no ar.
O nobre senhor estava que era uma fúria só. Fazia séculos que esperava. Sua carruagem tinha sido bloqueada por outra carruagem, que em vão tentava dar volta entre muitas outras carruagens. E perdeu a nenhuma paciência que lhe sobrava, desceu, desembainhou a espada e estripou o primeiro cavalo que encontrou atravessado em seu caminho.
Isso aconteceu ao anoitecer de um sábado do ano de 1766, na Place des Victoires, em Paris.
O nobre senhor era o Marquês de Sade.
Muito mais sádicos são os engarrafamentos de hoje.
Eduardo Galeano, Espelhos, 2009, p. 331.