Sou
um artista medíocre que vive em uma cidade medíocre, povoada por pessoas
medíocres.
A
vida aqui é prosaica, nunca há um só tema bom para ser explorado, as pessoas
não gostam de arte.
Quando
olho o que faço sei que sou ruim, talvez não exista pior. Mas as pessoas aqui
me consideram um artista, falam de mim como artista, me respeitam como artista e
tenho medo de mudar o meu modo de ser.
Se
respeitam a minha mediocridade devo
continuar a ser medíocre e talvez o meu grande talento seja esse, ser admirado
pela mediocridade.
É
do que gostam aqui, não querem que eu mude, faça coisas diferentes.
É
bastante confortável viver assim.
Não
ir contra a corrente. Igualar-se às pessoas.
A
mediocridade é uma coisa confortável, sabendo que você é medíocre, ninguém
espera nada de você.
Não
preciso ser original, não preciso entender de nada, ler nada.
Um
medíocre se destaca numa conversação, porque a mediocridade é a coisa mais
admirada neste Brasil.
Temos
a melhor televisão do mundo, e as maiores audiências, exatamente por ela ser
medíocre.
Olhar
sem pensar, sem raciocinar, sem refletir, sem ter papos cabeça.
É
uma coisa confortável.
Vivemos
a mais medíocre das civilizações, nunca este lindo país foi tão medíocre.
Políticos,
senadores, deputados, prefeitos, vereadores, professores, doutores, banqueiros e
bancários, industriais, comerciantes e comerciários, alunos, putas (até putas
estão medíocres, transam mal, chupam mal, recebem mal), padres, pastores,
cantores, escritores, metalúrgicos, alfaiates, bordadeiras, marqueteiros, publicitários,
futebolistas, treinadores, relojoeiros, bigbrothers, noveleiros, missionários,
templários, cruzados, reis, príncipes, estilistas, mudos, cegos, surdos, anões,
caolhos, zarolhos, mancos.
Não
escapa ninguém.
Por
isso me tranqüilizo sendo medíocre, ninguém é mais do que eu, nem menos.
Os
brasileiros se igualam todos.
A
humanidade vai se igualar em breve.
O
futuro será medíocre.
Assim
como medíocre é este texto, é quem o lê, é quem gosta dele, é quem o detesta, é
quem o entende, é quem não o entende.
Como
eu. Estou escrevendo e não sei o que escrevo.
Gostaria
de ganhar o Premio Nobel de Mediocridade.
A
palavra medíocre está na letra M de qualquer dicionário.
Ignácio
de Loyola Brandão. in. “Revista Revestrés”. fev., 2012, p.66.