sábado, 9 de junho de 2012

O artista medíocre*



Sou um artista medíocre que vive em uma cidade medíocre, povoada por pessoas medíocres.

A vida aqui é prosaica, nunca há um só tema bom para ser explorado, as pessoas não gostam de arte.

Quando olho o que faço sei que sou ruim, talvez não exista pior. Mas as pessoas aqui me consideram um artista, falam de mim como artista, me respeitam como artista e tenho medo de mudar o meu modo de ser.

Se respeitam a minha  mediocridade devo continuar a ser medíocre e talvez o meu grande talento seja esse, ser admirado pela mediocridade.

É do que gostam aqui, não querem que eu mude, faça coisas diferentes.

É bastante confortável viver assim.

Não ir contra a corrente. Igualar-se às pessoas.

A mediocridade é uma coisa confortável, sabendo que você é medíocre, ninguém espera nada de você.

Não preciso ser original, não preciso entender de nada, ler nada.

Um medíocre se destaca numa conversação, porque a mediocridade é a coisa mais admirada neste Brasil.

Temos a melhor televisão do mundo, e as maiores audiências, exatamente por ela ser medíocre.

Olhar sem pensar, sem raciocinar, sem refletir, sem ter papos cabeça.

É uma coisa confortável.

Vivemos a mais medíocre das civilizações, nunca este lindo país foi tão medíocre.

Políticos, senadores, deputados, prefeitos, vereadores, professores, doutores, banqueiros e bancários, industriais, comerciantes e comerciários, alunos, putas (até putas estão medíocres, transam mal, chupam mal, recebem mal), padres, pastores, cantores, escritores, metalúrgicos, alfaiates, bordadeiras, marqueteiros, publicitários, futebolistas, treinadores, relojoeiros, bigbrothers, noveleiros, missionários, templários, cruzados, reis, príncipes, estilistas, mudos, cegos, surdos, anões, caolhos, zarolhos, mancos.

Não escapa ninguém.

Por isso me tranqüilizo sendo medíocre, ninguém é mais do que eu, nem menos.

Os brasileiros se igualam todos.

A humanidade vai se igualar em breve.

O futuro será medíocre.

Assim como medíocre é este texto, é quem o lê, é quem gosta dele, é quem o detesta, é quem o entende, é quem não o entende.

Como eu. Estou escrevendo e não sei o que escrevo.

Gostaria de ganhar o Premio Nobel de Mediocridade.

A palavra medíocre está na letra M de qualquer dicionário.



Ignácio de Loyola Brandão. in. “Revista Revestrés”. fev., 2012, p.66.


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