sexta-feira, 1 de março de 2013

Mousikè e pavor*


O pavor nocturnus. Ruído, mordiscar de arganazes, de formigas, gotas de água de torneira ou de calha, respiração no escuro, lamentos misteriosos, gritos abafados, silêncio que não responde repentinamente à norma do som do silêncio do lugar, despertador, ramos batendo ou estalar de chuva sobre o teto, galo.

Pavor diurnos. No santuário. Em um corredor da rua Sébastien-Bottin durante vinte e cinco anos: não há ninguém e no entanto falamos em voz baixa. Cochichos de monges. Risos espremidos às vezes. Somos manequins de vime, o que os romanos chamavam larva, cujos fios são manipulados pelos mortos mais antigos, mais antepassados.

*Pascal Quignard in. “Ódio à música”. Ed. Rocco, 1999, p. 17.

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Photo: Don Hong-Oai, (China, 1922).


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