O
pavor nocturnus. Ruído, mordiscar de
arganazes, de formigas, gotas de água de torneira ou de calha, respiração no
escuro, lamentos misteriosos, gritos abafados, silêncio que não responde
repentinamente à norma do som do silêncio do lugar, despertador, ramos batendo
ou estalar de chuva sobre o teto, galo.
Pavor diurnos. No santuário. Em um corredor da rua Sébastien-Bottin
durante vinte e cinco anos: não há ninguém e no entanto falamos em voz baixa.
Cochichos de monges. Risos espremidos às vezes. Somos manequins de vime, o que
os romanos chamavam larva, cujos fios
são manipulados pelos mortos mais antigos, mais antepassados.
*Pascal
Quignard in. “Ódio à música”. Ed. Rocco, 1999, p. 17.
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Photo: Don Hong-Oai, (China, 1922).