A invasão do cenário urbano pelas
mulheres, no entanto, não traduz um abrandamento das exigências morais, como
atesta a permanência de antigos tabus como o da virgindade. Ao contrário,
quanto mais ela escapa da esfera privada da vida doméstica, tanto mais a
sociedade burguesa lança sobre seus ombros o anátema do pecado, o sentimento de
culpa diante do abandono do lar, dos filhos carentes, do marido extenuado pelas
longas horas de trabalho. Todo um discurso moralista e filantrópico acena para
ela, de vários pontos do social, com o perigo da prostituição e da perdição
diante do menor deslize. (...) Vários procedimentos estratégicos masculinos,
acordos tácitos, segredos não confessados tentam impedir sua livre circulação
nos espaços públicos ou a assimilação de práticas que o imaginário burguês
situou nas fronteiras entre a liberdade e a interdição.
*Margareth Rago in. “Do Cabaré ao
Lar: a utopia da cidade disciplinar”. Ed. Paz & Terra, 1997, p. 63.
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Photo: Washington, D.C., circa 1919.