No
fundo da China existe um Mandarim mais rico que todos os reis de que a Fábula
ou a História contam. Dele nada conheces, nem o nome, nem o semblante, nem a
seda de que se veste. Para que tu herdes os seus cabedais infindáveis, basta que
toques essa campainha, posta a teu lado, sobre um livro. Ele soltará apenas um
suspiro, nesses confins da Mongólia. Será então um cadáver: e tu verás a teus
pés mais ouro do que pode sonhar a ambição dum avaro. Tu, que me lês e és
um homem mortal, tocarás tu a campainha?
*Eça
de Queirós in. “O Mandarim”. Ed. Neolivros, 2008, p.07.
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Photo: Don Hong-Oai, (China, 1922).