É preciso estar sempre
embriagado. Aí está: eis a questão. Para não sentirem o fardo horrível do
Tempo, que verga e inclina para a terra, é preciso que se embriaguem sem
descanso. Com quê? Com vinho, poesia ou virtude, a escolher. Mas embriaguem-se.
E se, porventura, nos degraus de um palácio, sobre a relva verde de um fosso,
na solidão morna do quarto, a embriaguez diminuir ou desaparecer quando você
acordar, pergunte ao vento, à vaga, à estrela, ao pássaro, ao relógio, a tudo
que flui, a tudo que geme, a tudo que gira, a tudo que canta, a tudo que fala,
pergunte que horas são; e o vento, a vaga, a estrela, o pássaro, o relógio
responderão: “É hora de embriagar-se! Para não serem os escravos martirizados
do Tempo, embriaguem-se; embriaguem-se sem descanso! Com vinho, poesia ou
virtude, a escolher”
*Charles Baudelaire in. “O spleen de Paris: pequenos
poemas em prosa”. Ed. Imago, 1995, p. 21.
____ Bacante: