segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

A vida em vermelho*



Ernesto Guevara de la Serna, “El Che” (1928-1967).


A permanência de Guevara enquanto figura digna de interesse, investigação e leitura não deriva diretamente da geração à qual pertence. Não brota da obra nem sequer do ideário guevarista; vem da identificação quase perfeita de um lapso da história com um indivíduo. Outra vida jamais teria captado o espírito da época; outro momento histórico nunca se reconheceria em uma vida como a dele. [...]. As ideias, a vida, a obra, até o exemplo de Che pertencem a uma etapa da história moderna, motivo por que será difícil recuperarem no futuro sua atualidade. As principais teses teóricas e políticas vinculadas ao Che – a luta armada e o foco guerrilheiro, a criação do homem novo e o primado dos incentivos morais, o internacionalismo combatente e solidário – virtualmente deixaram de existir. A Revolução Cubana – seu maior êxito, seu verdadeiro triunfo – agoniza ou sobrevive graças ao abandono de boa parte da herança ideológica de Guevara. [...]. A importância de Che Guevara para o mundo e para a vida de hoje se verifica por osmose ou por controle remoto. Reside na atualidade dos valores da sua era, jaz na relevância das esperanças e sonhos dos anos 60 para um fim de século órfão de utopias, carente de projeto coletivo e dilacerado pelos ódios e tensões próprias de uma homogeneidade ideológica sem jaça. Seu instante de fama sobrevive ao Che, e ele, por seu turno, confere luz e sentido a esse momento cuja memória empalidece mas ainda perdura. Em sua infância e juventude, em sua maturidade e morte, jazem as chaves para decifrar o encontro do homem com seu mundo. [...].

*Jorge G. Castañeda in. “Che Guevara, a vida em vermelho”. Ed. Companhia das Letras, 2006, pp. 15-17.

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