Ernesto Guevara de la Serna, “El Che” (1928-1967).
A
permanência de Guevara enquanto figura digna de interesse, investigação e
leitura não deriva diretamente da geração à qual pertence. Não brota da obra
nem sequer do ideário guevarista; vem da identificação quase perfeita de um
lapso da história com um indivíduo. Outra vida jamais teria captado o espírito
da época; outro momento histórico nunca se reconheceria em uma vida como a
dele. [...]. As ideias, a vida, a obra, até o exemplo de Che pertencem a uma
etapa da história moderna, motivo por que será difícil recuperarem no futuro
sua atualidade. As principais teses teóricas e políticas vinculadas ao Che – a
luta armada e o foco guerrilheiro, a criação do homem novo e o primado dos
incentivos morais, o internacionalismo combatente e solidário – virtualmente
deixaram de existir. A Revolução Cubana – seu maior êxito, seu verdadeiro
triunfo – agoniza ou sobrevive graças ao abandono de boa parte da herança
ideológica de Guevara. [...]. A importância de Che Guevara para o mundo e para
a vida de hoje se verifica por osmose ou por controle remoto. Reside na
atualidade dos valores da sua era, jaz na relevância das esperanças e sonhos
dos anos 60 para um fim de século órfão de utopias, carente de projeto coletivo
e dilacerado pelos ódios e tensões próprias de uma homogeneidade ideológica sem
jaça. Seu instante de fama sobrevive ao Che, e ele, por seu turno, confere luz
e sentido a esse momento cuja memória empalidece mas ainda perdura. Em sua
infância e juventude, em sua maturidade e morte, jazem as chaves para decifrar
o encontro do homem com seu mundo. [...].
*Jorge
G. Castañeda in. “Che Guevara, a vida em vermelho”. Ed. Companhia das Letras,
2006, pp. 15-17.