domingo, 12 de fevereiro de 2012

Por baixo do pano*



Por Rosemary Hawthorne


A história das calcinhas mal chega a cobrir dois séculos de existência – o que não é nada se comparado às trajetórias de outras peças do vestuário no mundo civilizado. Durante esse tempo elas sofreram inúmeras transformações interessantes, é verdade, mas o fato é que até a última década do século XVIII as nossas ancestrais não se davam ao trabalho de pensar numa peça de roupa específica para usar sobre suas partes baixas. A saia longa, uma ou duas anáguas, o corpete e uma camisola de linho usada diretamente sobre a pele eram toda a vestimenta considerada necessária – ou, na verdade, saudável, para a mulher.

Ao contrário do que se diz nos dias de hoje, naquela época as mulheres que ousassem envergar calções – chamados também de ceroulas e exclusivos do guarda-roupa masculino – eram tachadas de “criaturas libertinas e de moral duvidosa”. Mas foi a partir dessa base tão incerta que, quem diria, a calcinha nasceu para se tornar um símbolo do recato.

Na década de 1790, os ventos da moda sofreriam uma mudança drástica de direção. A Revolução Popular que irrompeu na França levou a uma simplificação geral do vestuário na Europa inteira, e as mulheres passaram a usar elegantes vestidos de cintura alta inspirados na vestimenta das gregas antigas. Confeccionados em finas musselinas, esses chamados vestidos império eram tremendamente sensuais e estavam no auge da moda – mas também deixavam as partes baixas um tanto arejadas demais. E, assim, foi por volta de 1800 que as calcinhas tiveram sua primeira grande chance de fazer história.



in: Por baixo do pano: a história da calcinha, 2009, pp. 13-15.


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