terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Último desejo*



Por Eduardo Galeano


La Coruña, verão de 1936: Bebel García morre fuzilado.

Bebel usava a esquerda para jogar e para pensar.
No estádio, veste a camiseta do Depor. Na saída do estádio, veste a camiseta da Juventude Socialista.

Onze dias depois da morte de Franco, quando acaba de fazer vinte e dois anos, enfrenta o pelotão de fuzilamento:

 - Um momento – ordena.

E os soldados, galegos como ele, boleiros como ele, obedecem.

Então Bebel desabota a braguilha, lentamente, botão por botão, e cara a cara com o pelotão lança uma longa mijada.

Depois, abotoa a bragueta:

- Agora, sim.

­in: Espelhos, 2009, p. 271.

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