quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Todo cais é uma saudade de pedra*



Por Josenias Silva


Teve o primeiro que carregou a primeira pedra e a assentou no lugar do começo, depois vieram outras e mais outras. Ao primeiro juntaram-se mais alguns, cada qual com suas pedras e seu estilo próprio. E assim, ao cabo de muitas idas e vindas, surgiu o cais; mais que um amontoado de pedras, história de muitas vidas contada na beira do rio e nos calos das mãos. Do primeiro que se dispôs (ou foi obrigado) a fazê-lo, daquele que carregou a pedra fundamental, nada se sabe, não ficou nem o nome, mas com certeza sem sua pedra inicial não viriam as outras, nem os barcos ou homens, nem riquezas, nem cidades de rio. Ao pedreiro, que talhou na pedra esta engenhosa arte de escorar-se na água, efetivamente se deve agradecer a toda história de cais.


Ninguém se lembrava de que aquelas lajes, hoje enegrecidas pelos destinos que cruzaram por ali, vieram em lombo de burro desde o campo de aviação. Quantos anos, uma pedra, depois outra, o rio sempre atrapalhando. Paciência daqueles homens – a mãe contava, o rio foi baixando, baixando, e eles fizeram o cais. Nenhuma pedra mais se levantou como aquelas do cais novo. E vivem fiscalizando, uns homens tomando conta das rachaduras. (BRASIL, Assis. Beira Rio Beira Vida, 2008, p.98).


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