terça-feira, 6 de novembro de 2012

As Liberalas*



As liberalas, que eram chamadas desse jeito pelos policiais de Cádiz, conspiravam em código.

De suas avós andaluzas tinham aprendido a linguagem secreta do leque, que servia tanto para desobedecer ao marido como ao rei: aqueles lentos movimentos e súbitas acelerações, aquelas ondulações, aquele bater de asas.

Se as damas afastavam os cabelos da testa com o leque fechado, diziam: não me esqueça.
Se escondiam os olhos atrás do leque aberto: te amo.
Se abriam o leque sobre os lábios: me beija.
Se apoiavam os lábios sobre o leque fechado: não confio.
Se com um dedo roçavam as varetinhas: precisamos conversar.
Se abanando-se chegavam perto da varanda: nos vemos lá fora.
Se fechavam o leque ao chegar: hoje não posso sair.
Se era com a mão esquerda que se abanavam: não acredite nisso.


Eduardo Galeano. “Leques” in. Espelhos. Ed. l&pm 2009, p.182.

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