As liberalas, que eram
chamadas desse jeito pelos policiais de Cádiz, conspiravam em código.
De suas avós andaluzas
tinham aprendido a linguagem secreta do leque, que servia tanto para
desobedecer ao marido como ao rei: aqueles lentos movimentos e súbitas
acelerações, aquelas ondulações, aquele bater de asas.
Se as damas afastavam os
cabelos da testa com o leque fechado, diziam: não
me esqueça.
Se escondiam os olhos atrás
do leque aberto: te amo.
Se abriam o leque sobre os
lábios: me beija.
Se apoiavam os lábios sobre
o leque fechado: não confio.
Se com um dedo roçavam as
varetinhas: precisamos
conversar.
Se abanando-se chegavam
perto da varanda: nos vemos lá
fora.
Se fechavam o leque ao
chegar: hoje não posso sair.
Se era com a mão esquerda
que se abanavam: não acredite
nisso.
Eduardo Galeano. “Leques” in. Espelhos. Ed. l&pm 2009, p.182.