sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Balada de Robert Johnson*

Robert Johnson (1911-1938)


 (Balada de Robert Johnson / Álbum: Flavio Guimarães - 2005).

Seu mundo era rutilância 
Seu mundo era escuridão 
Seu nome era Robert Johnson
cantador d'outro Sertão 

Vinte e sete anos vividos 
lá nos Estados Unidos 
passou veloz como a luz 
Naquela terra sombria 
onde tristeza e poesia 
se dava o nome de Blues 

Sua mãe teve onze filhos 
seu pai ele nunca viu 
O mundo em que foi criado 
lembrava muito o Brasil 

Era neto de escravos 
dos negros fortes e bravos 
colhedores de algodão 
Nunca pisou numa escola 
escreveu com a viola 
e leu com o coração 

Dizem que foi o diabo 
quem lhe ensinou a tocar 
Em um encontro marcado 
numa noite sem luar 

Cruzando as estradas tortas 
daquelas veredas mortas 
chegou na encruzilhada 
Veio com a mão vazia 
e partiu com melodias 
porteio rima e tuá 

Outros garantem que é lenda 
que o diabo não existe 
Johnson só cantava blues 
por ser um poeta triste 

Impunhava o instrumento 
recitava um sentimento 
na sua vida andarilha 
E a tristeza era uma fera 
um cão negro, uma pantera 
farejando a sua trilha 

Correu estradas de ônibus 
de caminhão e de trem 
Hora cantando sozinho 
hora em dupla com alguém 

Andava dias inteiros 
ao lados dos companheiros 
sobre o sol mais escaldante 
Porém sempre se mantinha 
vestido com boa linha 
bem cuidado e elegante 

Buscando um namorada 
procurava as mais feiosas 
As mulheres solitárias 
carentes e carinhosas 

A mulher que lhe aceitava 
com todo gosto lhe dava 
o corpo a casa e a cama 
E ele deixava que ela 
julgar-se ser a mais bela 
na ilusão de quem a ama 

Uma noite numa festa 
tocava de madrugada 
E começou um namoro 
com uma mulher casada 

Sedutor e seduzido 
cantava como um sentido 
naquele corpo moreno 
Quando um copo alguém lhe deu 
ele pegou e bebeu 
sem saber que era veneno 

Saiu dali carregado 
para o quarto da pensão 
Morreu e deixou somente 
a mala e o violão 

Não levou fama nem glória 
não deixou nome na história 
não levou riso nem mágoa 
Foi um sopro de poeira 
uma nuvem passageira 
um nome escrito na água 

Foi assim que Robert Johnson 
passou pelo nosso mundo 
Brilhou durante alguns anos 
e apagou-se num segundo 

Não deixou seu nome escrito 
no mármore nem no granito 
nas armas nem nos brasões 

O que deixou para nós 
foram os versos e a voz 
e vinte e nove canções 


(Braulio Tavares/Sebastião da Silva)

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