Tamara de Lempicka
Le turban vert, 1930
Oil on canvas
40 x 32 cm
Bela, emancipada, moderna e escandalosa, personagem das
noitadas nova-iorquinas e dos salões parisienses de Arte, Tamara de Lempicka
encarnou a 'folia' dos 'anos loucos' – as décadas de 20 e 30 do século passado.
Sua vida e sua obra trafegaram entre os hotéis de luxo, os automóveis
conversíveis, os amores bissexuais, os lazeres chic, e as amizades graúdas –
D'Annunzio, Greta Garbo, Picasso, Jean Cocteau e André Gide, entre outras
celebridades da época.
Eram esplendores que camuflavam o abuso de cocaína, a
depressão, as dificuldades nas relações familiares e, por fim, a solidão. Maria
Gurwik-Górska, ou 'Tamara de Lempicka', nasceu em Varsóvia, na Polônia, em
1898. Sua mãe, Malvina Decler, era uma socialite de origem polaca; seu pai, um
advogado judeu nascido na Rússia. Mas logo se divorciariam. Maria estudou em
Lausanne, na Suíça, e cresceu paparicada pela avó Clementine, uma senhora rica
que elevava sua auto-estima incentivando-a a se tornar uma menina
'extraordinária'. Em 1911, é Clementine quem a acompanha em sua primeira viagem
à Itália. Visitam Florença, Roma, Veneza e desembarcam em Montecarlo onde,
todas as noites, a avó se diverte no Cassino. Após a morte de Clementine, Maria
se muda para a casa de uma tia em São Petersburgo onde, num baile de máscaras,
conhece o nobre advogado polonês Tadeusz Lempicki. Em 1916, numa cerimônia à
qual se refere como 'fábula' – mas que provavelmente não passou de um simples
matrimônio civil –, Maria conquista o solteiro mais cobiçado da cidade e, 4 anos
após, dá à luz sua filha Kizette.
É em Paris, no entanto – para onde foge após a Revolução
bolchevique –, que Maria encontraria seu verdadeiro destino. Adota um novo nome
– 'Tamara de Lempicka' – e, em 1918, vai estudar Pintura na Académie de la
Grand Chaumière, tornando-se discípula do pós-impressionista Maurice Denis e do
neocubista André Lhote. Do primeiro, herdará o colorido brilhante e sólido; do
segundo, o desenho geométrico e a maneira de decompor os volumes. Em 1922,
expõe no Salão de Outono – sua primeira coletiva –, mas seu estilo já é
inconfundível. Os volumes agigantados, a atenção aos detalhes, o delineamento
simples, e a materialidade quase explosiva de seus temas já consubstanciavam um
estilo pessoal. São retratos que, freqüentemente, utilizam a técnica do
trompe-l’oeil, alternando efeitos que vão de um gélido glamour à palpitante
sensualidade. Amigos, amantes e sua adorável filha Kizette – com quem nunca
conseguiria manter uma relação equilibrada –, animam suas telas.
Em 1925, realiza sua primeira exposição individual, em Milão,
e exibe seus trabalhos na primeira mostra art déco de Paris. De 1926 à metade
dos anos 30, se transforma numa verdadeira diva. Já divorciada do primeiro
marido, vive uma vida de sonhos. Seus retratos se valorizam e os jornais lhe
dedicam extensas matérias. Sua casa-estúdio parisiense, decorada pela irmã
arquiteta, torna-se um exemplo de modernidade e elegância. Pegando carona em
seu sucesso, a empresa Revlon – fabricante de cosméticos –, lhe dedica uma
marca de batom. Por essa época, retrata o Rei Alfonso XIII da Espanha e a
Rainha Elizabeth da Grécia. Em 1933, se casa com o Barão Raoul Kuffner – seu
ex-mecenas –, e em 1939 se transfere para Beverly Hills, na California. As
festas e o jet set hollywoodiano não bastam para salvá-la da depressão, que
agora se expressa também em suas telas. Em 1941, após conseguir retirar a filha
da Paris ocupada pelos nazistas, organiza em Nova Iorque uma mostra focada em
temas religiosos e na 'gente comum': um retumbante fracasso. Em 1943, se muda
para a Big Apple. Mais tarde, ainda tenta novos caminhos, através do
Abstracionismo e da pintura a espátula, técnica esta que adota nos anos 60. Mas
a crítica e o público não a seguiriam. Após a morte do marido, em 1962, para de
pintar e se muda, primeiro para Houston, no Texas, e em 1978 para Cuernavaca,
no México, aonde viria a falecer, em 1980.
Conforme expresso em seu testamento, suas cinzas foram
dispersas, pela filha Kizette e o Conde Giovanni Agusta, sobre o vulcão
Popocatepetl. Entre os admiradores e colecionadores de sua obra figuram
personalidades como o ator Jack Nicholson e a cantora Madonna, que a homenageia
nos videoclips de Express Yourself e Vogue.
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Fonte. O Século Prodigioso