sábado, 17 de novembro de 2012

O Donjuanismo*


Se amar bastasse, as coisas seriam simples. Quanto mais se ama, mais se consolida o absurdo. Don Juan não vai de mulher em mulher por falta de amor. É ridículo representá-lo como um iluminado em busca do amor total. Mas é justamente porque as ama com idêntico arroubo, e sempre com todo o seu ser, que precisa repetir essa doação e esse aprofundamento. Por isso, cada uma delas espera lhe oferecer o que ninguém nunca lhe deu. Em todas as vezes elas se enganam profundamente e só conseguem fazê-lo sentir necessidade dessa repetição. "Por fim", exclama uma delas, "te dei o amor". Não surpreende que Don Juan ria dela: "Por fim? Não" - diz ele -, "outra vez". Por que seria preciso amar raramente para amar muito?

Albert Camus in. O mito de Sísifo. Ed. Record, 2010, p. 83.

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