domingo, 4 de novembro de 2012

Congresso Internacional do Medo*


Mais do que contabilizar os números trágicos da violência urbana e/ou da onda de medo pulverizada pela mídia, precisamos de poesia, mesmo que seja para constatar o presente. Leia abaixo algo que W. Bonner poderia "noticiar" no seu JN.


Provisoriamente não cantaremos o amor,
que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos.
Cantaremos o medo, que esteriliza os abraços,
não cantaremos o ódio, porque este não existe,
existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro,
o medo grande dos sertões, dos mares, dos desertos,
o medo dos soldados, o medo das mães, o medo das igrejas,
cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos democratas,
cantaremos o medo da morte e o medo de depois da morte.
Depois morreremos de medo
e sobre nossos túmulos nascerão flores amarelas e medrosas.

Carlos Drummond de Andrade in.  “Obra completa” Ed. José Aguilar, 1967, p.105.
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