quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Beijo da rua*



Por Josenias Silva


A puta

Quero conhecer a puta.
A puta da cidade. A única.
A fornecedora.
Na rua de Baixo
Onde é proibido passar.
Onde o ar é vidro ardendo
E labaredas torram a língua
De quem disser: Eu quero
A puta
Quero a puta quero a puta.

[...]

Carlos Drummond de Andrade, “O Amor Natural”, 1992.


Toda cidade tem seus cantos e seus antros. Toda cidade possui lugares onde se pode escapar, por meio do sexo, das marcas nodais da moralidade. Para quem consome a cidade, estes territórios potencializam a realização daquilo que é publicamente inconfessável. Ali, as taras, as fantasias, os fetiches, os arranjos e rearranjos em torno do sexo acabam produzindo novos sentidos e sensibilidades.

Essa “geografia do prazer” dentro da cidade fez emergir a figura da prostituta que, embora seqüestrada da fala e do espaço público, sempre pairou sobre o imaginário social. Mesmo como um ser (in)desejado ou um “fantasma”, a prostituta jamais deixou de despertar a imaginação e o gosto pelo “proibido”.


Abaixo apresento alguns cartões-postais que fizeram parte do repertório estético e erótico da belle époque. Diga-se, em nada comparáveis à pornografia que hoje nos cerca retirando o encanto de tudo. 










______
*Indico uma boa leitura sobre o tema: RAGO, Margareth. Os prazeres da noite: prostituição e códigos da sexualidade feminina em São Paulo (1890-1930). 2.ed. São Paulo: Paz e Terra, 2008. Também indico um site sobre a luta das "profissionais do sexo" pelo reconhecimento e valorização pública: É só seguir o link: http://www.beijodarua.com.br/
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