domingo, 13 de novembro de 2011

Indo fundo na corrupção*



Por AFFONSO ROMANO DE SANT´ANNA


Resolvi dedicar-me à corrupção. Mas não me entendam mal. Resolvi ir a fundo nessa questão, estudá-la minuciosamente.

As motivações são óbvias: só se fala disto nos jornais. Então, como um cidadão qualquer, me indaguei se este seria um triste privilégio de nossa geração. Me indaguei se isto seria natural também na democracia. Me indaguei se seria uma tara exclusivamente nacional.

Comecei por onde deveria. Pela etimologia da palavra corrupção. O latim corruptione indica a noção de putrefação e decomposição.

E para minha perplexidade, na Biblioteca, o fichário de livros sobre corrupção é farto.  Os três governos mais corruptos  dos Estados Unidos foram os de Grant, Harding e Truman. No tempo de Grant,  disse o senador Paul Douglas, as ferrovias  compravam legisladores como se fossem gado. O secretario do presidente pertencia à quadrilha do uísque.   E o santo Abrahan Lincoln, como relata o seu biografo Carl Sandburg, também usou praticas corruptoras, ainda que para conseguir resultados louváveis, como a libertação dos escravos em Nevada. 

Há dois séculos, dizem os historiadores, a Inglaterra era uma cloaca  de corrupção. E a Rainha Vitória ficou famosa por tentar acabar com isso. E descubro que até no universo comunista isto existia. Vejo  um livro A kleptocraia - a corrupção na União soviética de Paul Maney.

Começo a ver a bibliografia brasileira sobre isto. O primeiro com o qual dou de cara é: IBAD:  sigla da corrupção, de Elói Dutra. Ali está narrado como a corrupção se instalou na política para se dar o golpe de 1964  que, paradoxalmente, dizia combater a corrupção.

Peço vários livros para me ilustrar. Seus títulos são sugestivos. O roubo é livre de Francisco  Oliveira, Sociologia da corrupção de Celso Barroso Leite, Enriquecimento ilícito no  exercício de cargos públicos de Bilac Pinto e, sobretudo, um deles me fascina e o quero ler vorazmente: Os honrados corruptos de Walter Goodman. Peço-o à funcionária da biblioteca. Ela  o procura, mas  me informa  desalentada:

-Lamento informar que esse livro sobre o roubo foi roubado.




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*Então seria um defeito de fábrica? Uma falha na divina fôrma original? Imaginem amanhã uma propaganda na TV nos chamando para um gigantesco Recall, com número de série e tudo.O Fabricante lamenta pelos transtornos e blá, blá, blá...” 
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