segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Perto do coração selvagem*

Por Clarice Lispector




[...] Não se sentia fraca, mas pelo contrário possuída de um ardor pouco comum, misturado a certa alegria, sombria e violenta. Estou sofrendo, pensou de repente e surpreendeu-se. Estou sofrendo, dizia-lhe uma consciência a parte. E subitamente esse outro ser agigantou-se e tomou o lugar do que sofria. Nada acontecia se ela continuava a esperar o que ia acontecer... Podiam-se parar os acontecimentos e bater vazia como os segundos do relógio. Permaneceu oca por uns instantes, vigiando-se atenta, perscrutando a volta da dor. Não, não a queria! E como para deter-se, cheia de fogo, esbofeteou o próprio rosto. [...].

Clarice Lispector, Perto do coração selvagem, 1992, p. 62.

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*Fragmento.
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