sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

O que não mudará no mundo após a virada*





Por Josenias Silva




Vou começar dizendo que não sou pessimista. Que odeio quando alguém me chama de pessimista. Quero dizer, pessimista é alguém que encara tudo pelo lado pior, que prefere ver os defeitos, que não acredita na vitória do bem sobre o mal, que de alguma maneira é conformado com o negativismo das coisas e até torce para tudo dar errado. Juro, não sou assim. Sempre considero que sofro um excesso de realismo, de desconfiança natural sobre algumas coisas, mas a isso não chamo de pessimismo. Direi que é apenas uma forma cautelosa de olhar a realidade.

O fato é que nos aproximamos novamente do fim de outro ano - o que é uma boa coisa. Um outro ano começará e isso já é razão suficiente para esperarmos o melhor. E geralmente o melhor nesse período do ano ganha o sentido de mudança, ou seja, espera-se que no ano que vem alguma coisa possa mudar de lugar, que seja trocar a casa, o carro, o namorado, emagrecer, estudar mais, parar de fumar, casar etc., etc., etc. Enfim, são tantas as possibilidades individuais que nem me arrisco a dizer nada, cada pessoa sabe de si e também não sei o que é melhor para ninguém.

Mas e o mundo, quero dizer, será que algumas coisas nunca irão mudar? Por exemplo, ninguém planeja acabar a fome no mundo no próximo ano, embora isso seja possível. Ninguém planeja extinguir a desigualdade social, ninguém planeja distribuir a riqueza do mundo de forma justa, ninguém planeja fazer cessar todas as guerras, ninguém planeja fazer a poderosa indústria farmacêutica descobrir cura para doenças lucrativas, ninguém planeja a paz entre as religiões, ninguém planeja o fim das ditaduras, ninguém planeja a liberdade de quem está preso injustamente, ninguém planeja educação e moradia para quem não tem, ninguém planeja o fim da corrupção política, ninguém planeja o fim do ódio de classe e de sexo, ninguém planeja o começo de uma outra humanidade menos desumana, ninguém planeja começar o ano em um mundo verdadeiramente novo, embora todo mundo sonhe com isso. E sonhar nesse caso não é planejar, sonhar aqui é entregar as coisas ao destino, a um futuro misterioso que se anuncia diante da velha novidade do mundo.

Mas como não sou pessimista desejo o melhor para todos, embora não acredite que tudo mudará de uma virada só.


Feliz ano “novo”!


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