quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Nijinski*

Por Eduardo Galeano




Na Suíça, em 1919, num salão do hotel Suvretta de Saint Moritz, Vaslav Nijinski dançou pela última vez.

Diante de um público de milionários, o bailarino mais famoso do mundo anunciou que ia dançar a guerra. E à luz dos candelabros, dançou-a.

Nijinski girava em furiosos torvelinhos e se desprendia do solo e no ar se partia e ao solo caía, e se revirava como se fosse de barro o chão de mármore e outra vez se lançava a girar e subindo quebrava, uma vez e outra e outra, até que no fim aquele resto dele, aquele alarido mudo, espatifou-se contra a janela e se perdeu na neve.

Nijinski entrou no reino da loucura, sua terra de exílio. Nunca mais voltou.


Eduardo Galeano, Espelhos, 2009, p. 245.

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*Na dança existe um antes e um após Nijinski, um gênio encantado e de passos alucinantes. 
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