Por Milan Kundera
Já era noite alta; eles estavam em casa de Edwige, e uma garrafa de uísque esvaziada pela metade estava diante deles sobre uma mesa baixa.
– O que você quer dizer com isso? – perguntou ela.
– Quero dizer que – respondeu Jan –, quando um homem e uma mulher fazem a mesma coisa, não é a mesma coisa. O homem violenta, a mulher castra.
– Você quer dizer com isso que é feio castrar um homem, mas que é uma bela coisa violentar uma mulher.
– Com isso, quero dizer apenas que – replicou Jan – a violação faz parte do erotismo, mas que a castração é sua negação.
Edwige esvaziou seu copo de um só gole e respondeu, encolerizada:
– Se a violação faz parte do erotismo, isso quer dizer que todo o erotismo é dirigido contra a mulher e que é preciso, portanto, inventar outro.
[fragmento]
in. O livro do riso e do esquecimento, 1990, p.198.