Por Annie Leclerc
Riso? Alguém jamais se importa com o riso? Digo, rir realmente, além da brincadeira, da caçoada, do ridículo. Rir, satisfação imensa e deliciosa, satisfação completa...
Eu dizia a minha irmã, ou ela me dizia, vem, vamos brincar de rir? Deitávamos uma ao lado da outra numa cama e começávamos. Fingindo, é claro. Risos forçados. Risos ridículos. Risos tão ridículos que nos faziam rir. Então ele vinha, o verdadeiro riso, o riso inteiro, nos levar em sua imensa vaga. Risos explodidos, retomados, sacudidos, desencadeados, risos magníficos, suntuosos e loucos. E ríamos até o infinito do riso de nossos risos... Ah, o riso! Riso de satisfação, satisfação do riso; rir é viver de maneira muito profunda...
Annie Leclerc apud Milan Kundera, O livro do riso e do esquecimento, 1990, p. 56.
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*Rir contra a esquizofrenia do tempo... rir para vencer a morte... rios de risos para todos...