sábado, 2 de fevereiro de 2013

Memória da ofensa*


26 de janeiro. Jazíamos num mundo de mortos e de fantasmas. O último vestígio de civilização desaparecera ao redor e dentro de nós. A obra de embrutecimento empreendida pelos alemães triunfantes tinha sido levada ao seu termino pelos alemães derrotados.

É um homem quem mata, é um homem quem comente injustiças; não é um homem que, perdida já toda reserva, compartilha a cama com um cadáver. Quem esperou que seu vizinho acabasse de morrer para tirar-lhe um pedaço de pão, está mais longe (embora sem culpa) do modelo do homem pensante do que o pigmeu mais primitivo ou o sádico mais atroz.

Uma parte de nossa existência está nas almas de quem se aproxima de nós; por isso, não é humana a experiência de quem viveu dias nos quais o homem foi apenas uma coisa ante os olhos de outro homem.

*Primo Levi in. “É isto um Homem?”. Ed. Rocco, 1988, p.173.

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Margaret Bourke-White—Time & Life Pictures/Getty Images

Survivors gaze at photographer Margaret Bourke-White and rescuers from the United States Third Army during the liberation of Buchenwald, April 1945



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