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de janeiro. Jazíamos num mundo de mortos e de fantasmas. O último vestígio de
civilização desaparecera ao redor e dentro de nós. A obra de embrutecimento
empreendida pelos alemães triunfantes tinha sido levada ao seu termino pelos alemães
derrotados.
É
um homem quem mata, é um homem quem comente injustiças; não é um homem que,
perdida já toda reserva, compartilha a cama com um cadáver. Quem esperou que
seu vizinho acabasse de morrer para tirar-lhe um pedaço de pão, está mais longe
(embora sem culpa) do modelo do homem pensante do que o pigmeu mais primitivo
ou o sádico mais atroz.
Uma
parte de nossa existência está nas almas de quem se aproxima de nós; por isso,
não é humana a experiência de quem viveu dias nos quais o homem foi apenas uma
coisa ante os olhos de outro homem.
*Primo
Levi in. “É isto um Homem?”. Ed. Rocco, 1988,
p.173.
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Margaret
Bourke-White—Time & Life Pictures/Getty Images
Survivors
gaze at photographer Margaret Bourke-White and rescuers from the United States
Third Army during the liberation of Buchenwald, April 1945