Um
homem da aldeia de Neguá, no litoral da Colômbia, conseguiu subir aos céus.
Quando voltou, contou. Disse que tinha contemplado, lá do alto, a vida humana.
E disse que somos um mar de fogueirinhas.
—
O mundo é isso — revelou. — Um montão de gente, um mar de fogueirinhas.
Cada
pessoa brilha com luz própria entre todas as outras. Não existem duas fogueiras
iguais. Existem fogueiras grandes e fogueiras pequenas e fogueiras de todas as
cores. Existe gente de fogo sereno, que nem percebe o vento, e gente de fogo
louco, que enche o ar de chispas. Alguns fogos, fogos bobos, não alumiam nem
queimam; mas outros incendeiam a vida com tamanha vontade que é impossível
olhar para eles sem pestanejar, e quem chegar perto pega fogo.
*Eduardo
Galeano in. “O livro dos abraços”. Ed. l&pm, 2010, p.13.
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Noite Estrelada sobre o Ródano, 1888.
Óleo em tela, 72,5 cm x 92 cm.
Vincent van Gogh, 1853-1890.