Me
falta tempo para celebrar teus cabelos.
Um
por um devo contá-los e louvá-los:
outros
amantes querem viver com certos olhos,
eu
só quero ser penteador de teus cabelos.
Na
Itália te batizariam de Medusa
pela
encrespada e alta luz de tua cabeleira.
Eu
te chamo brejeira minha e emaranhada:
meu
coração conhece as portas de teu pêlo.
Quando
tu te extraviares em teus próprios cabelos,
não
me esqueças, lembra-te que te amo,
não
me deixes perdido ir sem tua cabeleira
pelo
mundo sombrio de todos os caminhos
que
só tem sombra, transitórias dores,
até
que o sol suba à torre de teu pêlo.
*Pablo
Neruda in. “Cem sonetos de amor”. Ed. l&pm, 1979, p.24.
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