Hitler em 1914, foto de Heinrich Hoffmann
Munique, Odeonsplatz, agosto de 1914.
A bandeira imperial ondula nas alturas. Ao seu amparo, uma multidão se junta no êxtase da germanidade.
A Alemanha declarou a guerra. Guerra, guerra, gritam todos, loucos de alegria, ansiosos por chegar o quanto antes aos campos de batalha.
Num ângulo inferior da foto, perdido na multidão, aparece um homem em estado de graça, olhos no céu, a boca aberta. Quem o conhece poderia contar-nos que se chama Adolf, é austríaco, feioso, que fala com voz fininha e está sempre à beira de um ataque de nervos, que dorme numa água-furtada e que sobrevive vendendo nos bares, mesa por mesa, as aquarelas que pinta copiando paisagens de almanaques.
O fotógrafo, Heinrich Hoffmann, não o conhece. Não tem a menor ideia de que nesse mar de cabeças sua câmara registrou a presença do messias, o redentor das raças dos nibelungos e das valquírias, o Sigfried que vingará a derrota e a humilhação desta Grande Alemanha, que cantando marcha do manicômio ao matadouro.
Eduardo Galeano. in. Espelhos. Ed. L&PM, 2009, p. 244.