domingo, 15 de abril de 2012

Desgaste e passagem*

Bonsai

Construímos - criamos, elaboramos, fabricamos... - e depois mantemos - conservamos, guardamos, sustentamos... Nossa capacidade criadora e técnica nos permite produzir objetos e estruturas, muitos dos quais duram mais que a nossa própria vida: casas e cidades, livros e esculturas, pontes e estradas. Pois bem, sabendo, como sabemos, que tudo isso que produzimos também está submetido ao desgaste, procuramos conservá-lo e cuidá-lo. O fato de algumas coisas que produzimos durarem mais do que nós, leva-nos, de certo modo, a nos projetarmos nelas e a nos identificarmos com elas. Por meio delas sobrevivemos a nós mesmos. Com nossas obras resistimos parcialmente à implacável passagem do tempo. Elas são nossa pequena e passageira vitória sobre o tempo destruidor.

Nossas obras são como nosso refúgio, onde nos abrigamos um pouco para que a passagem do tempo não nos prejudique em demasia. Para me referir a essa dimensão da condição humana uso os termos cosmicidade e capacidade cosmopoiética. Nossa destreza técnica (agrícola, industrial, "tecnológica" (...) nos permite enfrentar o desgaste e as ameaças de destruição. Quando a habilidade técnica está a serviço da construção e não da destruição, procurando o progresso da ordem e não do caos, pode-se falar de cosmopoiesis (que literalmente significa "capacidade de produzir cosmicidade, ordem, harmonia"). Nesse sentido, cabe dizer que o homo faber - o homem capaz de fabricar e construir - é a expressão do homem cósmico.

Todos os ordenamentos e arranjos que nós os homens realizamos - todas as nossas obras - estão sempre ameaçadas de destruição e desaparecimento, e esta ameaça mais tarde ou mais cedo acabará se cumprindo. Então, embora às vezes com data de decadência e extinção mais longínqua, todas as nossas obras têm o mesmo destino nosso. A criação técnica e o desaparecimento de culturas e de seus artefatos são também indissociáveis como a vida e a morte. A passagem do tempo - a própria essência da realidade - implica decadência, ameaça e desgaste, aos quais nós tratamos de resistir criando, cuidando, vigiando. Mas com a passagem do tempo tudo acaba caindo, desmoronando, se convertendo em pó.

Assim sendo, por que motivo nós, os seres humanos, nos esforçamos para continuar construindo e ordenando, se sobre todas as nossas obras pesa, no final das contas, uma ameaça fatal? Uma primeira resposta é óbvia: criamos, construímos e depois nos esforçamos para conservar o que fizemos porque, enquanto contarmos com nossas obras, podemos obter frutos delas - a vinha dá uvas e estas dão vinho; os caminhos comunicam os povos entre si; as instituições oferecem identidade, coesão, serviços... Uma segunda resposta: mesmo prescindindo de sua utilidade e de seu serviço, a harmonia e a ordem são motivos de gozo e satisfação - a pessoa se sente bem quando limpou e arrumou a casa ou o escritório ou a oficina. Terceira resposta: ocasionalmente, por trás da realização de nossas obras, que têm todas como destino último o nada, pulsam o desejo e a esperança de alcançar algum tipo de ordem não ameaçada pela passagem do tempo - às vezes, no fundo de nossas obras, necessariamente submetidas ao desgaste e à ameaça de destruição, palpita um desejo de "eternidade".


Josep. M. Esquirol. in. O respirar dos dias. Ed. Autêntica, 2010, pp. 32-34.


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