sexta-feira, 2 de março de 2012

O pai dos computadores*



Por Eduardo Galeano



Por não ser macho que é macho, por não ter cabelos nas ventas, Alan Turing foi condenado.

Ele gemia, grasnava, gaguejava. Usava uma velha gravata como cinturão. Dormia pouco e passava dias sem fazer a barba e correndo atravessava a cidade de ponta a ponta, enquanto mentalmente ia elaborando complicadas fórmulas matemáticas.

Trabalhando para a inteligência britânica, alguns anos antes, tinha ajudado a abreviar a Segunda Guerra Mundial quando inventou a máquina capaz de decifrar os indecifráveis códigos do alto comando militar da Alemanha.

Naquela altura, já tinha imaginado um protótipo de computador eletrônico e havia assentado as bases teóricas da informática moderna. Depois, dirigiu a construção do primeiro computador que operou com programas integrados. Jogava intermináveis partidas de xadrez com a máquina e formulava perguntas que a enlouqueciam e exigia que ela escrevesse cartas de amor. A máquina obedecia emitindo mensagens que na verdade eram incoerentes.

Mas foram policiais de carne e osso que em 1952 o prenderam, em Manchester, por indecência grave.

Submetido a julgamento, Turing declarou-se culpado de homossexualidade.

Para que o libertassem, aceitou se submeter a um tratamento de cura.

O bombardeio de drogas deixou-o impotente. Cresceram tetas nele. Trancou-se. Já nem ia à universidade. Ouvia murmúrios, sentia olhares que o fuzilavam pelas costas.

Antes de dormir, como de hábito, comia uma maçã.

Certa noite, injetou cianureto na maça que ia comer.


in. Espelhos, 2009, pp. 295-296.

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