domingo, 25 de março de 2012

As invisíveis*


"la soldadera"

Mandava a tradição que os umbigos das recém nascidas fossem enterrados debaixo da cinza do fogão, para que cedo aprendessem qual é o lugar da mulher, e que dali não se sai.

Quando explodiu a revolução mexicana, muitas saíram, mas carregando os fogões nas costas. Por bem ou por mal, por seqüestro ou por vontade própria, seguiram os homens de batalha em batalha. Carregavam o bebê preso na teta e nas costas as panelas e caçarolas. E as munições: elas se encarregavam de que não faltassem tortillas nas bocas nem balas nos fuzis. E quando o homem caía, empunhavam a arma.

Nos trens, os homens e os cavalos ocupavam os vagões. Elas viajavam nos tetos, rogando a Deus que não chovesse.

Sem elas, soldadeiras, cucarachas, adelitas, vivandeiras, galletas, joanas, pelonas, guachas, aquela revolução não teria existido.

Nenhuma recebeu pensão.



Eduardo Galeano. in. Espelhos, Ed. L&PM, 2009, p. 251.



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