Por Michel Foucault
A extração da pedra da loucura
Hieronymus Bosch, c. 1475-1480
Óleo sobre madeira 48 x 35 cm
Não há civilização sem loucura. Essa parte de sombra, ou se vocês preferirem, de iluminação, ela acompanha o homem por todo lugar onde haja imposição de limites, onde se estabeleça instituições, onde leis sejam fixadas cada vez, sem dúvida, que ele fala. Há civilizações onde a loucura é parente próxima da religião; em outras, ela se aparenta, ao contrário, à magia ou ainda à medicina.
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Conhecer e sujeitar. Saber e comandar. Estas são coisas que estão intimamente ligadas e, se vocês quiserem, eu as descobri em estado puro no hospital psiquiátrico, onde o saber médico, o conhecimento, aparentemente único: reino especulativo dos psiquiatras é absolutamente indissociável de um poder extraordinariamente meticuloso, sabiamente hierarquizado que se desvela no hospício.
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A palavra que me parece mais pérfida não é a palavra “louco”. A que eu mais temo é “doença mental”. A passagem do louco ao doente, que é aparentemente uma nova qualificação, mas que é uma tomada de poder, foi isso que me interessou.
in. Michel Foucault par lui même (Documentário).
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